Por - Cláudio Apê Alves Freire. Hoje, acordei mais nostálgico como de costume, retrocedi aos anos 60 e me deixei estar no jardim da antiga prefeitura de Itabuna: o famigerado Jardim da Prefeitura!
Anos 50 |
Naqueles anos dourados, quando ainda adolescente, aquela legendária praça, era o point da juventude, onde tudo acontecia alusivo à paquera e modismos da época. Os dias de sábado e domingo, no turno da noite, funcionavam como uma apoteose dos acontecimentos semanais.
Entretanto, a preparação para aqueles momentos encantadores e prolíferos, já que muitos frequentadores constituíram famílias a partir dali, tinha seu start já na enfadonha segunda-feira, como se fosse um ritual.
A expectativa era gradativa, à medida que os finais de semana se aproximavam. Preliminarmente, era preciso ter a “mina” já em vista. E, em caso de reciprocidade da garota, se desse mole ou bola, conforme terminologia da época, nada de titubear logo na abordagem, o papo tinha que ser fluente e interessante, para não ser tachado de porre.
Anos 80 |
Para isso, ensaios eram fundamentais, a fim de se evitar vexames de última hora e expor a temida timidez. A aparência, também não podia ficar em segundo plano. As diretrizes e bases da paquera sempre preconizavam roupas da moda. Por exemplo: uma calça Lee, comprada na“ Ilha dos Ratos” em Salvador ou mesmo uma Topeka comprada nas Casas Sales ou em J.Rihan (de jovens e bons artigos) , combinadas com uma camisa de anarruga e uma botinha Calhambeque; caíam muito bem. Perfume, sim, sempre ao gosto do usuário, podia ser o “Lancaster” ou a “English Lavander”. Enfim, tudo tinha que ser criteriosamente programado, já que a concorrência era sempre acirrada, principalmente com os playboys oriundos de outras plagas, como Ilhéus, Salvador ou do sul do País.
Mas, voltemos ao nosso cenário, Jardim da Prefeitura. Conforme dito, nos finais de semana, o desfile, sempre em círculos horários ou anti-horários, de acordo com o flerte, começava pontualmente às 20 horas e terminava, para as moiçolas sob rigorosas vigilâncias dos pais, impreterivelmente, às 22 horas, sob pena de serem submetidas à “brados retumbantes” e castigos pela desobediência. Para aqueles mais libertos, que podiam ultrapassar o horário “regulamentar” ou quando soltavam o “Homem nu” na praça, conforme de praxe, eram disponibilizadas duas emblemáticas programações as quais, às vezes, adentravam a madrugada do dia subsequente.
A primeira, para os que tinham carro, era sintonizar a Rádio Mundial do Rio de Janeiro e ouvir a todo volume o programa intitulado, “Ritmos de Boite”, apresentado pelo precocemente falecido DJ Newton Alvarenga Duarte , o Big Boy. No programa, o DJ apresentava os sucessos de cantores e famosas bandas da época, como: Johnny Rivers, George Benson, Scott McKenzie, Beatles, Rolling Stones, The Mamas and The Papas, Herman’s Hermits , The Cowsills e outros.
A segunda programação, após o desfile do jardim, era a domingueira dançante do Itabuna Clube. Nesta, ao som dos conjuntos (como se chamava à época) Lord Ritmos, Os Grapsons e Joel Carlos, os casais se exibiam na dança dos mais diversos ritmos. Entre esses pares, destacavam-se os irmãos Humberto e Simone Netto, dando “calientes” shows nas músicas caribenhas; os irmãos Biró e Vera Apê, nos twist; Duduca Paixão e as mais diversas parceiras, no rock n’roll; e, Ceiça Sá e Gilsinho Rodrigues, nos boleros deslizados no bem cuidado salão encerado com cera Parquetina. Tudo isso ocorria, sob o vigilante olhar do rigoroso gerente do clube o Sr. Jacinto, que ao vestir algumas calças pouco compatíveis com a sua compleição física, ficava numa dúvida atroz: não sabia se reclamava dos casais que dançavam excessivamente coladinhos ou se ajeitava, as suas frouxas calças, colocando-as no prumo devido. Verdadeiro dilema, coitado!
Hoje em dia, apesar da praça ainda existir (Praça Olinto Leone), os points para esses fins mudaram de localização, principalmente com o advento do shopping center aliado às mudanças comportamentais dos jovens dos tempos modernos.
Entretanto, os programas citados, assim como outros (cinemas, teatros, piscinas do GTC e as lindas praias da vizinha cidade de Ilhéus) da então progressista cidade de Itabuna dos anos 60, preenchiam o tempo e os anseios dos jovens da terra, sem nada dever às grandes metrópoles do Brasil. Daí, a imensa saudade que todos os atores juvenis sentem daquela época de plena e irrestrita felicidade. Por isso é perfeitamente justificável esse meu acesso nostálgico neste dia, por saber que tudo alusivo àqueles tempos dourados, se iniciava na querida e saudosa praça do JARDIM DA PREFEITURA.
Janeiro, 2021
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