sábado, 11 de março de 2023

Republicanos: base de Lula, não!

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 Nada nos levará para a base de apoio a Lula, diz presidente do Republicanos

Por Camila Mattoso e Julia Chaib | Folhapress


Foto: Douglas Gomes / Divulgação

O presidente do Republicanos, deputado Marcos Pereira (SP), diz que o partido permanecerá independente e não integrará a base de apoio ao governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Congresso Nacional.
 

"Eu não vejo como a gente atuar como base do governo. Não há nada então que possa atrair [o partido para a base]", disse Pereira em entrevista à Folha.
 

Pereira afirma que não toparia ingressar na base mesmo que Lula oferecesse um ministério à legenda. Ele justifica a decisão dizendo que a maior parte da bancada do partido foi eleita e se identifica com a centro-direita.
 

Pereira argumenta ainda que seu partido elegeu o governador do maior estado do país, Tarcísio de Freitas, em São Paulo, e que não sabe como o Republicanos se posicionará na eleição presidencial de 2026.
  

PERGUNTA - Integrantes do governo Lula tentaram atrair o seu partido para a base e inclusive apoiaram o nome de Jhonatan de Jesus para o TCU (Tribunal de Contas da União). Qual é a chance de o Republicanos integrar o governo?
 

MARCOS PEREIRA - O partido continua independente e vai continuar independente.
 

Esse acordo de apoiar o Jhonatan, e até me apoiar para primeiro vice-presidente da Câmara, foi feito ainda no momento de transição, na [votação da] PEC da Transição [em dezembro]. O partido votou 100% contrário à PEC e ajudou a derrubar um destaque [que tratava do arcabouço fiscal]. Então não se trata de governabilidade no governo, mas de um acordo pretérito, numa outra situação.
 

P. - Não há nada que faça o partido mudar de opinião?
 

MP - Em 2019, nós fizemos uma convenção nacional do partido para a mudança do nome [de PRB para Republicanos] e do [lançamento do] manifesto político do partido.
 

No manifesto político, nós já abrimos no preâmbulo dizendo que o Republicanos é um partido conservador e liberal na economia.
 

Defendemos a livre iniciativa, o mercado, a meritocracia. É um manifesto de centro-direita. Então, nesse contexto, nosso manifesto político e o resultado da eleição -elegendo o governador do maior colégio eleitoral, do estado mais pujante e mais rico do país- não nos permite fazer parte da base do governo que é mais estatizante, socialista etc. Eu não vejo como a gente atuar como base do governo. Não há nada então que possa atrair [o partido para a base].

 

P. - Nem se Lula oferecer um ministério?
 MP - Não.

 

P. - O senhor está pensando na eleição de 2026?
 

MP - Óbvio. Não estou pensando na presidência propriamente dita. Nós temos quatro senadores, dos quais três foram eleitos nesse campo: General Mourão (RS), Damares [Alves] (DF) e Cleitinho (MG). O senador Mecias [de Jesus] já vinha no partido, mas também é de um estado, que é Roraima, cuja população é mais de centro-direita. Então a bancada no Senado tem dificuldade de virar governo.
 

E a bancada da Câmara, dos 42 [deputados], nós temos aí no máximo -se você fizer um esforço, espremer muito- 15 deputados, e a maioria do Nordeste [que topam integrar a base]. Eu disse para alguns deles, para você, que é do Nordeste, virar a base de Lula é um sonho. Mas para quem é do Centro-Oeste, do Sudeste, do Sul não tem condição.
 

P. - Quando eu olho para 2026, estou olhando para aumentar a bancada de senadores e aumentar a bancada de deputados; no mínimo, manter. Não vejo como a conta fecha. Como vou prejudicar a maioria?
 

MP - Para além disso, tem a questão também de em que campo que a gente vai estar em 2026 para presidente. Nós temos o governador do principal estado.
 

O projeto do Tarcísio, o mais natural é que ele seja candidato à reeleição. Agora, se houver um chamamento da população brasileira [para ele ser candidato a presidente], uma coisa que pesquisas qualitativas e quantitativas [meçam], e também a população, aquela onda, não podemos descartar. Mas nesse meio tempo tem o próprio [ex-presidente Jair] Bolsonaro, que é o mesmo eleitor. O que vai acontecer com ele, ninguém sabe.
 

Pelo que eu conheço do Tarcísio, se Bolsonaro for candidato, não acredito que ele disputaria contra ele.
 

P. - Se o Tarcísio não tivesse sido eleito governador, essa conta de não entrar na base seria a mesma?
 

MP - Seria a mesma porque nós temos um manifesto político, uma mudança de postura, de nome, que nos obriga a nos posicionarmos nessa toada.
  

P. - O governo tem base?
 

MP - Ainda não tem base, mas, dependendo do tema, penso eu que o parlamentar não tem como ficar contra.
  

P. - Mas isso passa por saber negociar emendas extras e cargos?
 

MP - O governo vai organizar com o Congresso. Eu não gosto de falar dos outros, mas quando você entrega três ministérios a um partido e esse partido diz que não é base, é independente, tem alguma coisa errada. Se o Republicanos tivesse três ministérios, só teria uma chance, que é de ser base.
 

P. - E cargos de segundo escalão?
 

MP - A gente sabe que tem parlamentares do seu partido que estão negociando. Aí são as coisas da política, né? Um deputado do Nordeste, do Norte, para ele é importante ter cargos no estado, mostra prestígio, influência. Eu não estou colocando a faca no pescoço de ninguém, mas é óbvio que, em alguns temas que são caros ao partido, o partido vai cobrar fidelidade.
  

P. - O sr. falou com Lula?
 

MP - Eu conversei por telefone no dia da aprovação da PEC da Transição. O líder [do governo no Senado] Jaques Wagner (PT-BA) ligou e falou: "olha, o presidente quer agradecer aqui por terem ajudado no destaque". Mas era importante ajudar. Não somos uma oposição por oposição, como às vezes até o Partido dos Trabalhadores foi.
 

A gente é uma oposição ou uma independência com diálogo, construção. Eu não quero que o avião caia porque eventualmente eu não concorde com o que o piloto faz.
 

P. - A não ida para a base tem a ver com o fato de a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, ter rechaçado o apoio da Igreja Universal?
 

MP - Deixa eu falar: dos 42 deputados [do Republicanos], 12 são da Universal -30 não são. São quatro senadores e nenhum é da Universal. Dois governadores que são católicos. O que tem a ver? É o fato de eu ser da Universal? O partido não é da Igreja Universal.
 

RAIO-X
 

Marcos Pereira, 50
 

Nascido em Linhares, no interior do Espírito Santo, é advogado, formado em direito pela Unip (Universidade Paulista) e mestre pelo IDP. Presidente do Republicanos desde 2011, foi ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços do governo de Michel Temer (MDB-SP), de 2016 a 2018. É bispo licenciado da Igreja Universal. Está no segundo mandato como deputado federal.
 

Galeria Este é Lula em 2023 Presidente assumiu pela terceira vez o cargo de presidente da República https://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/1753928801944556-este-e-lula-em-2023 ***

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