O calundu do Menino da Vila Zara
Joselito dos Reis |
Numa manhã de sábado, lá pelo meado dos anos 60, estava se formando o Bairro João Soares. A construção de uma de suas primeiras casas estava sendo edificada por Clóvis do Requeijão e Dona Candeinha, moradores antigos da Vila Zara; Clóvis do Requeijão, porque, vendia o produto, além da manteiga, na Feira-Livre, no centro da cidade. Na época da “Maria Fumaça! ”. Eles eram vizinhos dos pais do Menino da Vila Zara, Deraldo e Zefinha. Lembramos, e podemos afirmar de que, a casa de Seu Clóvis, se não foi a primeira a ser construída no bairro João Soares, foi uma das primeiras.
No local ainda não tinham ruas definidas e, as ruas mais próximas; a Juracy Magalhães e a de Mutuns (Saturnino José Soares). Próximo a construção, também, uma Fábrica de Biscoito. Se não, nos enganamos, “a Tupi”, se localizava, na Rua onde funciona, hoje, o Colégio CISO. No local existia ainda, muito mato, araçá, goiabeiras e “remela de gato! ”; muita grama e um solitário pé de Buriti. Entre a casa e a Fábrica. A fabricação dos biscoitos, exalava um delicioso aroma do produto.
Para chegar
ao outro lado do Rio, ou melhor ao João Soares, a família toda atravessou o rio,
por uma corredeira, onde o Menino da Vila Zara e Toinho, seu amigo, filho de
Seu Clovis, já conheciam, pois era o preferido para o banho, nas horas vagas
após “os babas”, escondidos dos pais. O local era muito perigoso, devido a
força da correnteza, que desembocava no poço Tubarão, um dos mais famosos do
Rio Cachoeira, por fazer muitas vítimas de afogamentos. Muitos diziam que no
referido poço, tinha um redemoinho e um “Monstro da mão cabeluda”, além do
“Nego d’agua” e da “Mulher de 7 metros”. (Histórias inventadas pelos pais, para
os meninos não irem para o Rio). A saída
ficava bem nos fundos da Churrascaria do Vicente (Hoje um grande esgoto, que substituiu
a água cristalina). E foi nesse cenário,
acompanhado de todos os seus amigos que, pela primeira vez, o Menino da Vila
Zara pisou do outro lado do Rio, na companhia de Seu Clovis, Dona Candeinha,
além de seu amigo Toinho, as meninas, Cristina, Novinha e Luquinha, que
formavam a linda família.
Preparado o
almoço, depois de Seu Clovis e os pedreiros terem trabalhado duro, para
terminar o reboco da casa, todos foram para a mesa, quando sentiram a falta do
Menino da Vila Zara! Ninguém sabia, o seu paradeiro e de que ele, era cismado e
por qualquer coisa ficava zangado. Pois na época, com 12 anos de idade, já
tinha uma forte vocação para ser poeta. O motivo, do desaparecimento, foi que
ele tinha brigado com uma das meninas, e essa disse para ele, que ele era “um
idiota, um burro”. Com isso uns almoçaram e outros não! Começaram a jornada da
procura e busca pelo o Menino da Vila Zara. Com quase três horas de buscas,
encontraram-no, numa moita de guaxuma, próximo ao pé de coco buriti. Os cocos
do chão, ele aproveitou para comer, e com isso não sentiu fome. O problema,
depois foi levar o Menino da Vila Zara para almoçar! Ele de calundu, não quis
de jeito nenhum... E nem quis retornar à casa, com vergonha de Nevinha, que
tinha lhe chamado de idioto.
Cinco horas da tarde, antes que escurecesse, voltaram todos para casa e o Menino da Vila Zara, calado, sem dizer uma palavra! Chegando em casa, após atravessar o Rio novamente, se abriu com o seu amigo Toinho... E lhe disse que nunca mais ia a casa nova dele. Resultado, Seu Clovis e família mudaram para a casa nova e nunca mais o Menino da Vila Zara, apesar da saudade, teve notícias de seu amigo Toinho, de Seu Clóvis e Dona Candeinha. Sabendo depois, que Toinho, tinha ido embora para a cidade de Garanhuns, Pernambuco...
Depois, já com 17 anos, após trabalhar da
entrega de leite de Cacau, entrega de pão e no balcão da Padaria Santa Fé, o
Menino da Vila Zara foi morar na Rua são João, no Bairro de Fátima, onde se
tornou muito amigo da família portuguesa, sendo membro do Grupo de Jovem
Shalom, começou a trabalhar no Box São José, na rodoviária Francisco Ferreira
da Silva e, de lá, para o Diário de Itabuna, onde adquiriu sua profissão onde ficou
por 25 anos, passando na época pela FESP/UESC, fazendo Pedagogia, mas não
concluindo, por questões financeiras. Se tornou jornalista e publicou os seus primeiros
trabalhos literários, quando fez grandes amizades. Entre elas: Plínio de Almeida,
Telmo Padilha, Raimundo Galvão, Ariston Caldas, Ramiro Aquino, Paulo Lima,
Waldeny Andrade, o que muito lhe ajudou na sua formação jornalística e poética.
Hoje um grande cidadão de Itabuna e de São Paulo, pregando a honestidade e as
boas lembranças.
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