segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Eleição de João Dória Jr. representa a vitória da antipolítica

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Nas ruas, ele fez um esforço enorme para se tornar político
José Roberto de ToledoEstadão
A histórica eleição de João Doria (PSDB) em primeiro turno – um fato inédito em São Paulo – é o maior símbolo desta eleição municipal no Brasil. Não só por dar visibilidade à derrota nacional do PT, que também governava a cidade, mas pelo triunfo do discurso da antipolítica. Em todos os debates e propagandas, Doria se apresentou dizendo “não sou político”. Se é ou não, importa menos do que a vitória avassaladora do seu discurso. Colou.

E calou. Fundo. Doria foi o mais votado em 56 das 58 zonas eleitorais de São Paulo, inclusive na extrema periferia da cidade, que há muitas eleições votava majoritariamente em candidatos petistas. Se na São Paulo profunda ela venceu, no centro rico antipetista Doria esmagou, com taxas superiores a 60%, 70% dos votos. Em pouco mais de um mês, saiu do semi-anonimato para derrotar duas ex-prefeitas, o atual prefeito e um astro de TV tornado político. E repetindo: “Não sou político”.
VOTOS DE PROTESTO – As demonstrações contra a política também apareceram nas taxas historicamente altas de abstenção, e de votos brancos e nulos – verificadas Brasil afora. Os eleitores que não apareceram para votar chegaram a 17,6% do total nacional este ano, contra 16,4% em 2012. Em São Paulo, a abstenção foi recorde: 21,8%. Assim como a taxa de votos em branco ou nulos: 16,7%. Superam em quantidade a votação do segundo colocado, Fernando Haddad (PT).
Antes mesmo de irem (ou não) às urnas, os eleitores já demonstravam que a eleição de 2016 não estava entre suas prioridades. Nas vésperas da votação, pesquisas do Ibope detectaram que cerca de metade dos eleitores das principais capitais do país tinham pouco ou nenhum interesse pela eleição: 54% em Porto Alegre, 51% em Belo Horizonte, 49% em São Paulo, 48% no Rio de Janeiro, 47% em Salvador, 45% no Recife.
DOIS FATORES – O desinteresse deve ser atribuído a dois fatores que se retroaliementam. A crise econômica, que deflagrou a crise política, que aprofundou a crise econômica. A fogueira foi alimentada pelas denúncias de corrupção contra muitas das principais lideranças do país, principalmente petistas.
A conjunção dos dois fatores produziu a maior derrota eleitoral do PT desde a sua fundação. De terceiro maior partido em número de prefeitos em 2012, caiu para a 10º colocação em 2016. É como se o partido tivesse voltado no tempo à época anterior à conquista do poder federal. Uma regressão de 16 anos. Nas capitais, elegeu o prefeito de Rio Branco e vai disputar o segundo turno no Recife. Só.
PMDB SE MANTÉM – Se a antipolítica atingiu o PT em cheio, pode acabar ajudando justamente o partido que há mais tempo está no poder no Brasil. O PMDB não cresceu substancialmente, perdeu capitais importantes como o Rio de Janeiro, mas manteve seu capital político mais importante: continua sendo o primeiro colocado no ranking de prefeituras. No médio prazo, lhe dá a maior alavanca nacional para as eleições presidenciais e para o Congresso em 2018.
No curto prazo, o resultado da eleição municipal dá força ao governo de Michel Temer. PMDB e PSDB (o maior vencedor das eleições municipais, depois de encolher por três eleições municipais seguidas) usarão a derrota do PT para rebater o discurso do golpe contra Dilma Rousseff e – mais importante – para acelerar a votação da emenda constitucional do corte de gastos públicos. “Vamos tirar o Brasil do vermelho”, é o mote.
MEDIDAS IMPOPULARES – O slogan pega carona na derrota do PT para tentar reduzir as resistências dos movimentos sociais às medidas impopulares que o Congresso precisará sancionar. É a melhor – talvez a única – chance de Temer conseguir consolidar sua base parlamentar.
Do lado do PT e seus aliados, a derrota acachapante deve provocar mais do que um freio de arrumação. Abre caminho para o surgimento de novas lideranças e partidos na esquerda.

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