Antonio Nunes de Souza*
Atraído pelos modismos e os
sucessos que estavam e estão estourando, Padre Hélio Benjanotti, homem bem
apessoado, descendência estrangeira, católico nem tanto fervoroso, mas,
atendendo um pedido da sua querida mãe, em função de uma promessa, foi colocado
em um seminário desde pequeno, ficando preso a religião por mais de uma dezena
de anos, somente saindo após sua ordenação. Citei esse fato para que vocês
saibam como ele chegou a ser padre e, que na verdade, não foi vocacional e nem
seu desejo! Então, como já disse acima, resolveu também fazer parte da galera
religiosa “cantante”, pois, além de desfrutar o sucesso, ganhar uma boa grana e
sair da rotina de missas, batizados, casamentos, etc., pensava pois, nas
procissões, ele já se via como um grande e famoso cantor, seguido por aquela
multidão para abraça-lo e pedir autógrafos!
E, para começar a fixar seus
planos, entrou para uma escola de canto (tinha alguma experiência de quando
cantava nos corais gregorianos) e, ao mesmo tempo, aprender a manejar bem uma guitarra,
pois, violão ele já dominava desde sua juventude. Com essa atitude, seguindo
com afinco diariamente, com quatro meses já se sentia apto a começar suas
apresentações, de início em sua paróquia e, posteriormente, viajar pelo Brasil,
acompanhando a onda celestial e católica que estava dominando o mercado,
batendo de testa com os adventistas sertanejos e mestres no canto gospel! Em
Salvador onde morava, mandou fazer umas roupas adequadas um tanto vistosas,
mas, discretas ao mesmo tempo, cortou o cabelo, fazendo um penteado da moda,
procurou uma produtora para lança-lo e, sentindo-se pronto, depois de ter
investido suas economias com instrumentos e apetrechos necessários, começou a
ensaiar sua primeira apresentação na Concha Acústica, graças aos esforços e
conhecimentos da produtora, que viu nele, um bom quinhão financeiro, uma vez
que o cara era bonito, voz boa, carisma e padre. Um prato cheio para alimentar
o carente e carinhoso povo, que cantando e dançando, pensa que alcançarão o céu
mais depressa!
Muita propaganda, outdoor,
cartazes, TVs, rádios, carros volantes, faixas, internet, etc., tudo isso
investido pela produtora que, astutamente, fez um contrato de 50% das rendas
durante 5 anos. Padre Hélio, na avidez do sucesso, nem se prendeu a regatear e
assinou tranquilamente. Com sua inteligência e versatilidade, criou uma série
de músicas com letras baseadas nas escrituras, ritmo-as para rock pesado estilo
a banda Sepultura, algumas roupas exóticas para trocar durante os espetáculos
e, sem mais nem menos, achava-se super preparado para enfrentar a sua nova
carreira, porém, sem abandonar sua profissão de padre, pois essa lhe abriria
muitas portas, principalmente entre os devotos mais fervorosos e chegados a
músicas alucinantes!
Chegou o dia da sua estreia, a
concha enchendo com o povo curioso e feliz de conhecer esse novo fenômeno
religioso mandado por Deus, para purificar e apascentar suas ovelhas. Vinte uma
horas em ponto, como previsto, entra no palco ultra iluminado de holofotes
coloridos, tendo ao fundo um imenso telão apresentando passagens da Bíblia,
entra um locutor anunciando: Com vocês, temos o orgulho de apresentar, nosso
Elvis celestial do Brasil, enviado por Deus: Padre HÉLIO BENJANOTTI!!!
Pode parecer exagero da minha
parte, mas, a concha veio a baixo quando ele começou a cantar a sua composição,
feita e criada para tal fim: Madalena foi mulher de Jesus. Em seguida entrou
com Judas me vendeu barato, Nossa Senhora das Loucuras, O Milagre dos prazeres
e foi mandando bala com seu repertório alucinante, o povo pulava, dançava e
dava gritos ensurdecedores, esquecendo até da sua condição de padre, um forte
coro de tietes, com os braços levantados e dizendo: Padre Hélio beija a mim,
beija a mim, meu lindo! Ele entusiasmado, parecia endiabrado e possuído, tocava
sua guitarra, deitava no chão, fazia mil e umas caras e bocas, olhando feliz o
seu desejo se tornando realidade e grande sucesso. No final, teve que voltar ao
palco 3 vezes, inclusive fechando o show com a música de Roberto Carlos em
ritmo de pauleira: Eu te darei o céu meu bem!
Depois das entrevistas para a
imprensa, receber autoridades no camarim, seguiu para jantar com a produção
super feliz com o resultado, em seguida foi para um hotel 5 estrelas, seguindo
a recomendação da sua equipe, no sentido de dar maior status na manhã seguinte,
pois, com o sucesso alcançado, fatalmente, seria procurado para apresentações
em programas como Jô Soares, Faustão, Fátima Bernardes, Serginho Groisman, etc.
Entro no banheiro para tomar um
banho rejuvenescedor e, na saída, tomou o maior susto, pois, em sua cama estava
uma fã linda que logo lhe disse: Eu me enlouqueci por você, Hélio beija-me! Ele
completamente nu, se esqueceu da sua condição sacerdotal e, sem nem pensar,
deitou na cama mandou ver com vontade e desejo contido por muitos anos.
Transaram tanto, tanto, tanto que, depois adormeceram, sem ter dado tempo para
nosso paroquiano pensar o que estava ou esteve fazendo. Acordou quase meio dia
e olhando para o lado, viu que a mulher já tinha ido embora, e aí começou a pensar
na zorra que havia acontecido, pois, sinceramente, não fazia parte de sua
começada vida artística. Depois veio a saber que tudo foi armação da produção
querendo que ele conhecesse o outro lado do mundo artístico. O bom que todos
adoram!
Mediante esse surpreendente
resultado, pediu férias e licença por 3 meses da sua paróquia, pois apareceram
contratos para várias outras apresentações e era fundamental que estivesse
completamente liberado. Começou a viajar por outras capitais, apresentações em
TVs, etc., mas, já safadamente, sempre pedia que fosse mandada uma dádiva para
seu hotel, sendo guardados todos os segredos possíveis. Hélio já falava
calmamente que, essa transada, como dizia Cazuza: Faz parte do meu show!
E assim, hoje ele é sucesso nacional,
licenciado por tempo indeterminado da sua paróquia, não deixa a batina, pois
sua condição lhe abre portas pela excentricidade católica, além de conservá-lo
como um “come quieto”, sem a obrigação de casar. Amanhã, devido nossa velha
amizade, vou atender seu convite e vou ao seu show no Castro Alves, com o
título: VADE RETRO SATANÁS!
*Escritor – Membro da Academia
Grapiúna de Letras – AGRAL – antoniodaagral26@hotmail.com
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