Representantes de instituições ambientais participaram hoje (03), na Câmara de Vereadores de Ilhéus, da 2ª. Audiência Pública da Comissão Especial de Estudos da Urbanização da Avenida Soares Lopes. O encontro – encerrado no início da noite - atende a um cronograma de audiências públicas setoriais organizadas pelo Poder Legislativo, cujo objetivo principal é promover uma escuta pública para saber da população e das representações sociais qual o melhor destino a ser dado a uma das áreas mais valorizadas da cidade.
Para os participantes, a avenida deve ser pensada como um grande complexo de turismo e de lazer, mas tendo uma forte consciência da necessidade de preservação ambiental. “É, sem dúvida, um espaço propício ao estímulo de novos esportes olímpicos, como pistas de skate, quadras de tênis”, opinou o representante do Sindicato Rural de Ilhéus, Isidoro Gesteira. “Mas é preciso melhorar coisas impactantes que já existem, a exemplo da falta de limpeza e do cuidado com a restinga”, completou Wellington Laudano, médico veterinário do projeto (a) mar.
Laudano explica que a praia da avenida Soares Lopes é um dos principais locais de desova de tartarugas marinhas em Ilhéus. A previsão é de que no auge da desova da espécie, de outubro deste ano a abril de 2022, serão identificados de 40 a 42 ninhos em um raio de apenas três quilômetros deste trecho do litoral, onde o Projeto (a) Mar espera proteger cerca de 5 mil filhotes.
*Situação difícil*
O abandono e o descaso da área vêm de muito tempo, destaca o professor de surf e membro do Grupo Amigos da Praia (GAP), Gabriel Macedo. Mas os problemas da avenida – na opinião dele – só passaram a ter mais visibilidade a partir da construção da nova ponte e, agora, que o debate está aberto, é preciso que a vontade do povo prevaleça. “Hoje temos que fazer trilhas para chegar à praia. Há mato e lixo. Nos falta acessibilidade”, afirmou.
Para além das condições de manutenção da avenida Soares Lopes, a ativista social Socorro Mendonça alerta para o que ela considera o loteamento da área. Para Socorro, este trabalho desenvolvido pela Câmara não deve apenas resultar em um relatório. Mas, sobretudo, em um projeto conceitual que possa ser avistado e entendido pela população. O professor Reinaldo Soares, membro do recém-criado Instituto Baía do Pontal, concorda. “Ainda prevalecem as concessões dos amigos do rei. Sou favorável ao setor produtivo. Mas precisam ocorrer dentro dos aspectos legais. Se a gente consegue trabalhar na perspectiva do planejamento, vamos envolver a todos os segmentos que a cidade tem relação direta. E isso é maravilhoso”, destacou.
O oceanógrafo Rian Pereira da Silva, presidente do Instituto Marola, entende que o município não pode dar as costas para o litoral que tem. “Estamos perdendo restingas por falta de uma fiscalização eficiente”, denuncia, citando que esta, por sinal, é a dura realidade da praia da avenida. A complexidade ambiental da Soares Lopes chama a atenção. “A avenida é mais que uma praia. Alí é a foz do rio Cachoeira. É pensar a avenida no contexto da duplicação da BR 415, trazendo benefícios para o rio”, afirma a professora Valerie Nicollier, da Universidade Federal do Sul da Bahia.
*Missão da sustentabilidade*
Recém-empossado no cargo de secretário municipal do Meio Ambiente, José Victor Pessoa assegurou que, ao ouvir sua equipe técnica momentos antes da reunião, ouviu dela a importância pela continuidade da execução do projeto paisagístico de Roberto Burle Marx, iniciado nos anos 80 mas sem conclusão até hoje. “O projeto é a cara da avenida, é a cara de Ilhéus”, destacou Pessoa, acrescentando que ao assumir o cargo recebeu a ordem do prefeito Mário Alexandre de coordenar um projeto de desenvolvimento econômico e social, preservando o meio ambiente. “E essa é a ordem que vamos cumprir”, assegurou.
Dirigente da Universidade Livre do Mar e da Mata (Maramata), Diego Messias destacou a coragem da Câmara em debater o tema ao promover uma discussão aberta com a sociedade. Ele defendeu a realização de um inventário da área e, paralelamente, o desenvolvimento de um projeto urbanístico de ocupação organizada que envolva turismo, esporte e meio ambiente.
Três vereadores participaram da Audiência. Além do presidente da comissão, Vinícius Alcântara (PV) e do relator Ivo Evangelista (Republicanos), teve também a presença da vereadora Enilda Mendonça (PT). A parlamentar destacou que é preciso esclarecer o papel desta comissão criada pelo presidente da Casa, vereador Jerbson Moraes (PSD). “A comissão foi criada para ouvir. O papel dela não é gerar projeto. O papel do legislativo é abrir esta porta para ouvir e trabalhar conjuntamente para que o resultado deste debate possa dar sustentação a um projeto que beneficie o coletivo”, afirmou. Enilda lembrou ainda que a proposta surgiu a partir de uma preocupação ao perceber a existência de um loteamento desordenado na avenida. “Não vamos discutir pedacinho por pedacinho da avenida. Mas ela toda, inteira”, afirmou.
Ouvir os mais diversos segmentos da sociedade e saber qual o sentimento que a população tem da avenida Soares Lopes, também foi destacado por Ivo Evangelista. O presidente Vinícius Alcântara informou que os detalhes importantes coletados hoje serão observados no relatório final que a comissão vai elaborar para compor toda essa conexão de assuntos e temáticas sobre a orla. “O meio ambiente precisa ser uma pauta prioritária do município”, opinou, elogiando, também, o poder de uma audiência pública. “A gente está aqui para escutar aquilo que a gente quer e aquilo até que a gente não quer ouvir. Mas isso é democrático e a gente tem que estar preparado para tudo isso”, elogiou.
*Audiências Setoriais*
As próximas audiências públicas setoriais terão a participação de representações dos segmentos do turismo, esporte e lazer, cultura, habitação, comércio e serviços, educação, institucional ordenamento legal e mobilidade e segurança, com cada tema em uma data, sempre às sextas-feiras. Paralelamente a este trabalho, a Comissão disponibilizou um questionário para saber a opinião dos moradores a respeito do futuro da avenida.
O formulário físico pode ser preenchido na portaria do Palácio Teodolindo Ferreira, sede da Câmara. Uma urna está à disposição do público. Já o formulário online está disponibilizado no link https://forms.gle/ 8PYmL9NZQptuDA2aA. De acordo com a comissão, quase 1.500 formulários online já foram preenchidos, o que demonstra o interesse de toda a cidade com relação a este tema.
ascom/câmara
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