Durante a pandemia, muitos internautas buscam entender a diferença entre a falta de ar causada pela ansiedade e a provocada pela covid-19. Melhor forma de agir é sempre procurando orientação médica
Do - Correio Brasiliense - Os brasileiros nunca pesquisaram tanto na internet sobre ansiedade quanto durante a pandemia do novo coronavírus, revela levantamento do Google feito a pedido do Correio. Entre janeiro e julho, o interesse de busca pelo tema foi 191% maior que a média observada entre 2004 e 2019, segundo dados do Google Trends. O pico de pesquisas ocorreu em junho, quando o país ultrapassou a marca de 1,4 milhão de casos de covid-19 e a taxa de desemprego cresceu 26%.
Segundo estudos, esse fenômeno está diretamente ligado à pandemia, que elevou os níveis de ansiedade, inclusive em Basília, e não é restrito ao Brasil. Pesquisa realizada pela Universidade de San Diego em pareceria com a Universidade Johns Hopkins, ambas nos Estados Unidos, mostrou que o mesmo ocorreu naquele país. "As pesquisas por ansiedade e ataques de pânico foram as mais altas que já ocorreram em mais de 16 anos de dados de pesquisa históricos", conta, em comunicado à imprensa, Benjamin Althouse, cientista-chefe do Institute for Disease Modeling e um dos autores do estudo, publicado este mês na revista especializada Jama Internal Medicine.
Ansiedade, pânico ou covid?
Também por trás dessas buscas está o fato de um dos sintomas da covid-19 ser a falta de ar. Ao ter dificuldades para respirar, muitas pessoas recorrem à internet para descobrir se o que sentem é fruto da ansiedade ou sinal de uma infecção grave por coronavírus.
Foi o que fez, recentemente, Guilherme Augusto, 24 anos, após sentir esse sintoma. "Foi muito desesperador. E por causa da falta de ar que senti, achei que estava com covid", conta. Além da pesquisa na internet, uma conversa com amigos o ajudou a se acalmar e, aos poucos, a respiração se normalizou, dando certeza ao jovem de que ele havia passado por um quadro de ansiedade.
Nem sempre, porém, é possível, para quem não é especialista, identificar se uma falta de ar se deve à ansiedade ou à covid-19. E como a falta de ar, no caso do novo coronavírus, é sinal de um quadro grave, o melhor, segundo os médicos, é não arriscar e procurar o pronto-socorro. Um especialista poderá dizer se o problema foi causado pelo vírus ou se tem fundo emocional. E, nos dois casos, indicar o melhor atendimento para a pessoa.
Crise de ansiedade x ataque de pânico
Outra dificuldade das pessoas é diferenciar uma crise de ansiedade e uma de pânico. Psiquiatra da rede Santa Lucia, Fabio Aurelio explica que a primeira é um quadro de ansiedade exagerado. Nessas situações, a pessoa fica muito tensa e preocupada, apresentando sintomas como inquietação, pensamento acelerado, medo, insegurança e tensão muscular, o que pode tornar a respiração mais ofegante. Porém, em quadros assim, ainda é possível continuar ativo e até realizar as atividades do dia a dia, embora com dificuldade.
Já a crise de pânico é mais grave. Geralmente, vem acompanhada de taquicardia (coração muito acelerado), suor frio, dor no peito, falta de ar e sensação de morte iminente. O psicólogo e psicanalista Leonardo Saraiva diz que muitos dos que sofrem uma crise de pânico acham que estão tento um infarto, tamanha a dor e a sensação de morte iminente. "De modo geral, os ataques de pânico são episódios abruptos e surpreendentes em que a pessoa se vê tomada por um medo muito intenso de morrer ou perder o controle de si", afirma.
Mais uma vez, não cabe a uma pessoa leiga tentar diferenciar se o quadro é de infarto ou de uma crise de pânico. Em casos assim, deve-se procurar imediatamente atendimento médico para que o diagnóstico correto seja dado e o tratamento adequado, iniciado. Aliás, em quadros de ansiedade, quanto mais cedo a busca por ajuda ocorrer, menor as chances de evolução para um quadro grave.
"Alguns pacientes têm um alto índice de ansiedade, mas não têm a percepção clara disso. Aí, demoram para procurar ajuda e, quando chegam, chegam num quadro mais grave de ansiedade, como um episódio de pânico, que poderia ter sido evitado", alerta Fabio Aurelio. O medo da covid-19 também tem feito muita gente com ansiedade adiar a busca por auxílio psicológico ou psiquiátrico. "Alguns pacientes ficam em casa o máximo que podem e passam a ter sintomas físicos. Vão para o hospital com medo de ser coronavírus, mas é uma crise de ansiedade", completa o psiquiatra.
Exercícios de respiração
Em qualquer dos casos, enquanto não recebe atendimento especializado, a pessoa pode realizar algumas técnicas de respiração que podem ajudá-la a ficar mais calma e amenizar a falta de ar caso se trate de uma crise de ansiedade ou de pânico. Veja algumas técnicas abaixo:
Técnica 1
- Sente-se em posição ereta (no chão ou em uma cadeira)
- Puxe o ar pelo nariz, de forma lenta e profunda
- Na hora de soltar, faça um biquinho com a boca
- Repita 10 vezes
Técnica 2
- Sente-se com as costas eretas ou deite-se
- Coloque as mãos sobre a barriga
- Respire devagar, aumentando a barriga, contando até cinco
- Dê uma pausa de dois segundos
- Exale lentamente, contando até seis
- Faça o exercício por 10 a 20 minutos
Técnica 3
- Com a ajuda do dedo indicador, tampe a narina esquerda e inspire pela outra narina (contando até cinco)
- Na sequência, a narina que “puxou” o ar deve ser usada para “soltá-lo”
- Repita o procedimento cinco vezes
Saúde mental na pandemia
Os casos de ansiedade e pânico que têm chegado aos consultórios e as evidências de que o tema gera cada vez mais buscas na internet são vistos, pelos especialistas, como um sinal de que a atenção à saúde mental da população durante a pandemia deve ser redobrado. "Um ataque de pânico não deve ser encarado levianamente, pois pode levar alguém à sala de emergência com falta de ar, coração acelerado, dor no peito e uma intensa sensação de medo. Nossos resultados, inquestionavelmente, justificam a necessidade de mais serviços de saúde mental", argumenta John W. Ayers, coautor do estudo norte-americano.
Fabio Aurelio e Leonardo Saraiva concordam e pontuam que a realidade brasileira impõe desafios específicos. "Há de se considerar a realidade cotidiana da maioria dos brasileiros, daqueles que perderam seus empregos ou sofreram cortes no orçamento e que muitas vezes não dispõem do espaço ou da privacidade para um atendimento on-line”, pontua Saraiva.
Já lidando com a ansiedade há algum tempo, a estudante universitária Giovanna Franco, 21 anos, reforça a posição dos especialistas. Ela conta que teve as crises agravadas durante a pandemia. "O medo e a incerteza que a pandemia traz me permeiam todos os dias. Parece que a ansiedade se instalou aqui. Sinto que, desde março, não consigo descansar direito", conta a jovem paranaense.
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