(Terra) À primeira vista, as biografias de Dilma Rousseff e de seu
colega finlandês, Sauli Niinistö, não convergem: de esquerda, ela participou da
resistência à ditadura militar; de direita, ele abandonou o escritório de
advocacia que comandava para entrar na política e acabou eleito com o apoio do
empresariado do país.
Mas há um ponto em comum no passado recente dos dois líderes
que virou motivo de piada entre jornalistas finlandeses: as campanhas de ambos
à Presidência são suspeitas de terem sido irrigadas com dinheiro de fontes
irregulares.
O escândalo envolvendo o presidente finlandês dominou o
noticiário local desta terça-feira após a revelação de novas denúncias contra
ele no principal programa de TV do país, exibido na noite de segunda-feira. A campanha
de Niinistö é acusada de ter se beneficiado de doações não identificadas de
empresários durante a corrida presidencial de 2006. Ele acabou derrotado no
pleito
O esquema teria voltado a acontecer nas eleições
parlamentares do ano seguinte, abastecendo as campanhas dos principais partidos
de centro-direita da Finlândia, inclusive o de Niinistö, o Partido de Coalizão
Nacional.
Segundo as denúncias, grandes empresas doavam a organizações
sociais criadas pelos próprios partidos que, por sua vez, encaminhavam o
dinheiro em forma de doação às campanhas. O objetivo era manter o sigilo dos
doadores, que depois cobravam favores dos parlamentares eleitos.
O esquema teria movimentado cerca de 500 mil euros na época
(R$ 2,2 bilhões em valores atualizados) e provocou uma mudança na lei de
financiamento de campanha na Finlândia, tornando-o mais rígido. As novas regras
estipulam que as doações têm de ser declaradas e apenas aquelas abaixo de 1,5
mil euros podem permanecer anônimas.
A triangulação guarda semelhanças com o suposto esquema que
teria sido usado pelo PT durante a última campanha de Dilma à Presidência,
segundo denúncia em delação premiada do empresário Ricardo Pessoa, dono da
empreiteira UTC, em depoimento durante as investigações da operação Lava Jato.
O partido, no entanto, tem afirmado que as contribuições
recebidas são "todas legais e declaradas ao TSE".Segundo jornalistas
locais, o escândalo chocou a sociedade finlandesa, conhecida mundialmente pelo
alto nível de confiança nas instituições. "O finlandês não está acostumado
a escândalos de corrupção. Há um ambiente de confiança mútua", afirmaram.
"Em alguns meios de transportes públicos, por exemplo,
não há catracas e, mesmo sem fiscalização, todo mundo paga passagem. Isso (o
escândalo) de certa forma chocou porque quebrou essa relação de
confiança", acrescentaram.
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