Marina Silva voou dez vezes no jatinho caixa dois do PSB. Não dá para apagar os registros de vôo e dizer que não sabia.
A candidata à Presidência Marina Silva (PSB) voou dez vezes na
aeronave Cessna PR-AFA, cuja doação à campanha é investigada pela
Polícia Federal. O GLOBO teve acesso a registros de pousos e decolagens
do jato no período em que esteve à disposição da candidatura de Eduardo
Campos e Marina. As viagens da candidata podem atrapalhar a estratégia
do PSB, que, desde o início das investigações, busca desvinculá-la
formalmente da aeronave.
Especialistas em Direito Eleitoral argumentam que eventuais
irregularidades podem atingi-la, apesar da morte de Campos. A
coordenação jurídica da campanha discorda. A lista de viagens de Marina
foi obtida a partir do cruzamento dos compromissos oficiais da candidata
com voos realizados e dados fornecidos pela própria campanha do PSB. A
PF investiga a compra do jato e também o pagamento de despesas
operacionais, quando ela já estava sendo utilizada. Esses gastos foram
pagos por uma empresa de fachada.
Em
vez de declarar a doação nas prestações de contas parciais, como
determina a legislação, o PSB deixou para declarar apenas em novembro, o
que também contraria a lei. Marina usou o jato pela primeira vez no fim de maio, para participar,
em Goiânia (GO), de seminário do partido. Em junho, voou quatro vezes,
passando por Goiânia, Brasília, Maringá e Londrina. No fim de julho,
participou de ato em Vitória (ES). Em agosto, voou outras quatro vezes,
ao Rio, a Brasília e a São Paulo. O jato caiu em 13 de agosto, matando
Campos e seis assessores.
Segundo o PSB, o avião havia sido emprestado pelos empresários João
Carlos Lyra e Apolo Santana Vieira. As despesas operacionais também
seriam pagas por eles. Para a doação ser legal, o valor não poderá
ultrapassar 10% do rendimento declarado dos dois em 2013.
PARA ESPECIALISTA, CHAPA É ‘ÚNICA E INDIVISÍVEL’
Especialista em Direito Eleitoral, o advogado Arthur Rollo lembra que
o registro de candidaturas ocorre em “chapa única e indivisível”. — A
Marina era vice quando o avião caiu. Qualquer problema com a
cabeça da chapa também afeta o vice. Se houver processo, não será contra
a chapa atual, mas a anterior.
O coordenador jurídico da campanha de Marina, Ricardo Penteado,
discorda. Para ele, mesmo usando o jato, Marina não pode ser
responsabilizada. — O avião estava emprestado para o Eduardo, não para a Marina. Se eu
pegar um táxi no aeroporto e te der uma carona até a cidade, o que você
terá a ver com minha relação com o taxista? — questiona.
Presidente da Comissão de Direito Eleitoral da OAB, Norberto Campelo
diz que o desconhecimento de Marina sobre a doação poderá “eximi-la de
responsabilidade”. Mas, para ele, no contexto da análise da prestação de
contas de Campos, candidatos são corresponsáveis. — Se constatada irregularidade, ela e o partido respondem. ( O Globo )
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