Antonio
Nunes de Souza*
Todos
os anos temos a obrigação histórica de comemorar o aniversário da nossa querida
e sofrida Itabuna. Querida porque nós a amamos e sofrida pela desdita e má
sorte por não ser administrada, já há alguns anos, de uma maneira séria,
respeitável e digna como precisa e merece! Talvez, pela falta de atenção,
reflexão e interesses egoísticos, as escolhas não tenham sido a contento ou, as
campanhas não terem sidas esclarecedoras o bastante perante o desmemoriado
povo! Leia também "O vidente"
Mas,
não devemos procurar culpados, pois, na verdade, todos temos a nossa fatia de
culpabilidade, sendo uns por interesses imediatos, outros por votarem por
favores posteriores, uma parte por simpatias e belezas, grande maioria
acompanhando suas linhas partidárias, etc., transformando as câmaras em
verdadeiros “balaios de gatos”, sendo necessários, abrir uma série de
concessões para que os projetos apresentados (bons ou ruins) sejam aprovados e
executados. Nesse particular, as parcerias que vemos são de arrepiar os
cabelos. No começo o prefeito quando é novo político estranha muito, mas,
rapidamente, percebe que tudo isso é normal e faz parte do podre esquema
implantado ao longo dos anos!
Discute-se
muito nas altas esferas, comissões nas licitações e concorrências, mas, até as
crianças da APAI sabem que, no país (e muitos outros do mundo), não se coloca
um tijolinho numa obra pública, que não tenha que ser dada uma comissãozinha
para aqueles que, ali estão, para cuidar das economias públicas. Uma triste
vergonha que enxotam as pessoas honestas a trabalharem em órgão públicos, uma
vez que forem e propuserem consertar, são execrados, boicotados e despedidos
como “pessoa não grata” e inimiga do esquema!
Veremos
mais uma vez inaugurações de umas modestas obras, tapeações de pronunciamentos
nos palanques, desfiles dos colégios e suas bandas marciais, visitas de
políticos de outras esferas (catadores de votos eventuais), o povo com suas
crianças embevecidas com os festejos, vendedores ambulantes atropelando todos
para vender seus comestíveis e bebidas e, como complemento “tapeativo”, um show
com bandas e sertanejos!
Infelizmente
esse é o retrato anual das festividades comemorativas dos dias das cidades
brasileiras. Porém, se você lutar pelo seu país, pode ter certeza que tudo
melhorará!
O
vidente
Antonio Nunes
de Souza*
Eu
morava numa cidade de interior, mais atrasada do que noiva na hora do
casamento. Basta dizer que no dia da instalação do primeiro e único orelhão
existente, teve até banda de música e discurso do prefeito. E, para a decepção
da multidão aglomerada na praça da Matriz, na hora de fazer a ligação
inaugural, o desgraçado ficou mudo e desabou uma forte chuva dispersando a
boquiaberta e orgulhosa platéia, que há dias vinha se vangloriando de estar
entrando na era da comunicação.
Televisão,
nem pensar! Nos conformávamos com nossos rádios, que estrondavam descargas
quando queríamos ouvir as rádios da capital e apitavam mais do que os guardas
da Av. Paulista na hora do rush, quando ousávamos coloca-los em ondas curtas.
Não
existia luxo. Todo mundo andava de sandália japonesa (hoje a famosa havaiana)
ou então com chinelos. Sapatos e roupas melhores, tirando as autoridades, só
usávamos nas festividades da padroeira, N. S. dos Aflitos (até a santa de lá
parece que foi escolhida a dedo). Nas noites do novenário as quermesses rolavam
soltas e os namoros também.
O
bom é que todo mundo era praticamente igual. Tinha que se fazer um nivelamento
por baixo, pois a pobreza era grande maioria. Isso facilitava muita coisa pra
todo mundo.
A
maior vantagem era que tinha, pelo menos, dez mulheres para cada homem. Não que
lá só nascia criança do sexo feminino! A razão dessa fartura era porque, como a
cidade não tinha e não oferecia condições de trabalho, os rapazes quando
completavam dezoito anos, se mandavam para S. Paulo, em busca de um futuro
melhor na maior capital da América Latina. Normalmente só ficavam aqueles que a
família tinha alguma condição econômica, quer seja na área do pequeno comércio
ou micro faixas de terras com plantações de subsistência e algumas vaquinhas
leiteiras.
Se
alguém me perguntasse qual era a fonte de renda daquele lugar, juro que não
teria uma resposta para dar. Pois, nem mulher rendeira existia por lá. Com
certeza, só ganhou o status de cidade em função de interesses políticos de um
deputado da região, que lá aparecia somente nas épocas de eleições e, com esse
beneficio, transformou o lugar em seu curral eleitoral.
Somente
hoje, após conhecer outros centros, posso avaliar a miséria que era minha
cidade. Se na procissão você lá do fundo gritasse: Oh pobre! Pode ter certeza que todo mundo virava pra
trás.
Carros
só existiam três: Um do padre (padre não tem salário, não ganha nada, mas
sempre mora bem, tem prestígio e leva uma vida boa), um do juiz e outro da
prefeitura. Tirando o da prefeitura, que era uma Kombi, os outros eram dois
fusquinhas velhos e comprados de segunda mão!
Quando
saí de lá, senti uma alegria retada, pois, tanto rezei, que Deus me deu uma
força e eu me mandei pelo mundo, procurando melhorar minha vida. Embora sendo
tabaréu, fiquei numa pensão barata matutando o que deveria fazer para meu
sustento. Passando pelas ruas, percebi que haviam dezenas de pessoas com
aquelas tabelas na frente e nas costas, entregando panfletos com propagandas de
Videntes e Adivinhos.
Achei engraçado e não imaginei que o povo das cidades
grandes ainda acreditavam nesses marreteiros e cartomantes que tiravam onda de
“ciganos”, fazendo premonições. Aí veio a ideia de montar também minha tenda
milagrosa em um quarto da pensão e começar a faturas, pois, curiosamente, tinha
aprendido a trabalhar (?) com Tarôt. Com minhas pequenas economias, comprei uma
imitação de bola de cristal, alguns apetrechos, dois castiçais, mandei fazer
meus santinhos e, eu mesmo, fui distribuir nas ruas e, ao mesmo tempo, saber a
média de preço cobrada pelos meus “colegas”.
Por
incrível que pareça, quando voltei da rua bastante cansado, já tinha duas
mulheres me aguardando para consulta. Tomei um tremendo susto e não imaginei que
o povo fosse tão idiota. Mas...entrei no meu quarto que era vizinho ao que
aluguei para escritório de atendimento, me vesti decentemente e voltei rápido
para atender minhas consulentes. Conversamos, disse-lhes uma serie de bobagens
que normalmente estão acontecendo com todo mundo, ouvi estórias, dei conselhos,
etc., enfim, saíram satisfeitas, ficaram de me recomendar e, maravilhosamente,
me pagaram 100 reais. Achei o dinheiro mais roubado do mundo e como é fácil
enganar esse povo desiludido!
Continuei
minha labuta, já contratei um menino filho da dona da pensão para distribuir
meus panfletos, e mais que depressa, passei a atender quatro ou cinco criaturas
diariamente (homens e mulheres), e assim fazendo meu pé de meia tranquilamente.
Passei a fazer economias, e, tranquilamente, com um ano eu já estava de carro, aluguei
mais um quarto vizinho, contratei uma secretária e fui ampliando minhas
atividades, já estando até sendo Membro da Associação Paulista de Videntes e
Quiromancias. O fato é que, com alguns anos, tornei-me um homem relativamente
rico, com apartamento próprio, salas adquiridas em prédios comerciais de
gabarito e uma casa nos arredores para atendimentos, já que os subúrbios são as
fontes abundantes desse meu público alvo. Raramente vem uma madame, pois elas
já tem os seus gurus de altos prestígios na sociedade.
Resolvi
contar a minha história verídica, para mostrar que, o povo é tão inocente e tem
pouca escolaridade, que a literatura brasileira taxada como as mais vendidas,
tratam de autoajudas e fantasias!
Já
estou atendendo apenas dois dias na semana, mais com pena daqueles querem ouvir
tolices, que para ganhar dinheiro. Muitas vezes até deixo de cobrar quando
percebo a condição e classe social de algumas pessoas. Tem uma rádio que me
paga muito bem para eu fazer horóscopos para eles transmitirem diariamente.
Aqui pra nós eu invento tudo, dou boas risadas e envio. Eles ficam ultra
satisfeito, seus ouvintes tornam-se meus novos clientes, e hoje tenho a
credibilidade reconhecida como: Professor Jonatas da Silva!
*Escritor
– Mem
bro da Academia Grapiúna de Letras –AGRAL antoniodaagral26@hotmail.com
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