sexta-feira, 28 de junho de 2019

Bahia se reinventa com produção de Chocolate de Origem

 
Festival internacional que movimenta setor acontece de 18 a 21 de julho no Centro de Convenções de Ilhéus

“Tivemos de demitir todos os 120 funcionários e fazer financiamentos na tentativa frustrada de recuperar totalmente a lavoura. Perdi alguns imóveis e uma fazenda. Jamais vivemos algo como a vassoura-de-bruxa, foi uma coisa altamente desastrosa”. Exatos 30 anos depois do surgimento do fungo que dizimou as plantações de cacau no Sul da Bahia, o cacauicultor Fernando Botelho, 77, celebra o crescimento da sua marca de chocolate e outros derivados do cacau orgânico, a Modaka, e se prepara para participar da 11ª edição do Chocolat Bahia Festival, que acontece em Ilhéus, de 18 a 21 de julho. O evento, hoje considerado o maior do setor no Brasil, teve um início modesto, com apenas quatro marcas nacionais. Este ano, 70 produtores de chocolate de origem, de um total de 170 expositores, ocuparão o pavilhão de feiras do Centro de Convenções da cidade.
A crise que abateu a cacauicultura na região em 1989 levou os produtores a buscar alternativas. “Começamos a fazer polpa e geleia de cacau na cozinha da minha mãe”, conta a engenheira Patrícia Viana Lima, 50 anos, filha de Botelho e Chocolate Maker da Modaka. O nome faz referência ao doce do deus hindu Ganesha, símbolo de prosperidade e força no rompimento de obstáculos. Desde 2012, é na única fazenda que restou à família Viana Lima, no município de Barro Preto, Sul da Bahia, onde se produz o cacau 100% orgânico que dá origem aos nibs, amêndoas crocantes e chocolates certificados nacional e internacionalmente.

O beneficiamento da amêndoa foi a saída encontrada para a derrocada da produtividade. “O Chocolat Festival surgiu justamente para fomentar a profissionalização desse novo mercado que, em 2008, surgia ainda timidamente na região e hoje está em plena expansão. Há 11 anos reunimos consumidores, especialistas e produtores nesse evento, uma grande oportunidade para discutir a industrialização, a verticalização da produção e, consequentemente, a melhoria da qualidade das amêndoas de cacau selecionado e produto final elaborado”, pontua o empresário Marco Lessa, idealizador do festival, eleito em 2016 e 2018 uma das 100 personalidades mais influentes do agronegócio no Brasil.
O evento contribuiu diretamente para o crescimento vertiginoso desse mercado na região, tornando-se um marco na história recente do Sul da Bahia. “Além de cumprir sua função de promover a cadeia do cacau e chocolate, o Festival serve como divisor de águas para a nossa história, mudando a forma de se pensar a economia, dando visibilidade e criando um espaço para a promoção e negócios de novas marcas de chocolates finos, fabricantes de equipamentos, produtores de cacau e derivados, inovação. O evento atrai turistas, consumidores em geral, fazendo o papel educativo de levar ao público a oportunidade de degustar produtos singulares de alto nível gastronômico, a ter contato com o mundo do chocolate através de palestras, cursos, e elevar o nome da Bahia a padrões internacionais como referência em chocolates de alta qualidade”, elogia Cristiano Santana, presidente da Associação Cacau Sul Bahia, que representa mais de 2.300 produtores.
Com teor mínimo de 40% de cacau (contra os 25% das marcas de grandes indústrias no Brasil), o chocolate produzido a partir de amêndoas selecionadas – em um processo intitulado Bean to Bar (da amêndoa à barra) ou de Origem – tem conquistado consumidores mundo afora. “Em 2015 começamos a exportar nossos chocolates para a França. A receptividade é excelente e pretendemos avançar pela Europa”, revela Alexandre Soeiro, gerente da Mendoá Chocolates, uma das marcas em exposição no Chocolat Festival.
Indicação Geográfica
Conquistado no ano passado, o registro de Indicação Geográfica (IG) garante aos produtores de cacau do Sul da Bahia o Selo de Origem. Ele é concedido a lugares que são conhecidos como tradicionais produtores de um determinado produto ou serviço ou cujas características do produto, quando originário do local, são únicas. No caso do Sul da Bahia, conta toda a tradição e história em torno da produção de cacau, como, por exemplo, o modo de produção cabruca, que minimiza o impacto no meio ambiente, ajudando a manter parte da flora e sem eliminar a fauna local. “Sem dúvida, o Selo de Origem chega no momento certo para valorizar ainda mais o trabalho que vem sendo desenvolvido, elevando o patamar tanto da matéria-prima quanto do nosso chocolate no mercado”, comenta Lessa.
Atualmente, a Bahia lidera o ranking de produção de cacau no País, com mais de 200 mil toneladas produzidas entre 2017 e 2018.
Programação
Voltado para consumidores e profissionais da área, o Chocolat Bahia Festival atrai anualmente milhares de visitantes, marcando o calendário turístico do estado e firmando o Sul da Bahia como principal região produtora de chocolate de origem do Brasil. Durante quatro dias, além da venda de chocolates e outros derivados do cacau selecionado, o 11º Chocolat Bahia promove experiências sensoriais, exposições históricas e artísticas, cursos de capacitação, workshops, debates sobre temas do setor e palestras ministradas por especialistas internacionais.
Logo na entrada do pavilhão, o visitante cruzará o Túnel Cabruca, simulação cenográfica e sensorial de uma plantação de cacau sob a sombra da Mata Atlântica. Será possível ver e tocar nos frutos, pisar nas folhas secas, ouvir os sons e sentir o aroma da floresta. Em seguida, outro espaço temático mostra a quebra do cacau, um cocho de fermentação e até uma mini barcaça de secagem das amêndoas.
Entre os destaques desta edição está a Cozinha Show, com workshops de confeitaria e gastronomia à base de chocolate ministrados por grandes chefs do Brasil. Nos cursos, o público poderá aprender com Lucas Corazza (especialista em chocolate formado na França e jurado no programa Que Seja Doce, do canal GNT), Rafael Barros (eleito pela revista Veja o melhor confeiteiro de São Paulo), Tati Benazzi (cake designer e participante da Batalha dos Confeiteiros da Record TV), Karla Leal  (jornalista echocolatière à frente do ateliê-escola Chokolateria no Rio de Janeiro), Júnior França (consultor e coordenador de eventos gastronômicos com especialização na Espanha), Janaína Suconic (chef confeiteira com formação nacional e internacional e professora de gastronomia da Universidade Paulista), além dos chefs locais André Cabral,  Zilma Helena, Daniela Façanha e Olívia Fernandes, trazendo o melhor da região.
Fórum do Cacau e o Chocoday trazem palestras proferidas por especialistas nos respectivos temas cacau e chocolate. Entre as apresentações mais disputadas estão as da consultora francesa Chloé Doutre-Roussel, autora do livro The Chocolate Connoisseur conhecida em todo o mundo como Madame Chocolate. Chloé falará sobre o mercado mundial do cacau e também sobre como utilizar os sentidos para reconhecer um bom chocolate.  
O Festival agrega ainda espaço de recreação e minicursos de confeitaria para crianças, a Cozinha Kids, e exposição de bolos confeitados e esculturas de chocolate noAteliê do Chocolate.
Os ingressos de entrada custam R$ 10 (meia-entrada R$ 5 para estudantes). Os workshops Cozinha Show custam R$ 25 cada, já as palestras Fórum do Cacau ou Chocoday saem por R$ 50. Na compra de qualquer um dos itens da programação, o visitante ganha o ingresso para a feira. Para garantir a vaga com antecedência, os interessados podem realizar a compra dos bilhetes no site www.chocolatfestival.com. Crianças com até 10 anos de idade não pagam entrada.
Todos os resíduos recicláveis produzidos pelo evento serão destinados à reciclagem graças a parcerias com o Grupo de Amigos da Praia (GAP) e a cooperativa Coolimpa.
Chocolat Bahia – 11º Festival Internacional do Chocolate e Cacau conta com a parceria do Governo da Bahia, através das secretarias do Turismo, do Desenvolvimento Econômico, da Agricultura, do Desenvolvimento Rural, CAR, e apoio financeiro do Fundo de Cultura, Secretaria da Fazenda e Secretaria de Cultura, assim como da Prefeitura Municipal de Ilhéus, Sebrae, Governo do Pará, Chocolates Harald e Sicredi. O evento também tem apoio institucional da CEPLAC, Instituto Biofábrica, UESC, GAP, entre outras instituições. O Chocolat Bahia é uma realização da MVU Eventos, detentora da marca para o Brasil e exterior. 
Ascom -Por - Lívia Cabral

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