sexta-feira, 10 de junho de 2011

“CONTRAPPASSO” DE DANTE. (*)

                 Giulio Sanmartini, nota introdutória, seleção e tradução.

Os ministros do Supremo Tribunal Federal do Brasil, certamente não leram o que segue, caso  tenham lido, espero que lhes seja dada a mesma dor que carrega consigo o signatário dessa carta (23/2/2009).

Adriano Sabbadin, hoje com 48 anos tinha somente 17 quando Cesare Battisti e seu bando entraram no açougue de seu pai e o mataram. Ele escreve uma carta aberta aos brasileiros, que foi publicada no “Corriere del Veneto”:

“Vivo em uma pequena cidade na província de Veneza, escrevo a todos os brasileiros, pois hoje me sinto profundamente ferido pela decisão de vosso ministro da Justiça de considerar Cesare Battisti um refugiado político. Há 30 anos ele assassinou meu pai, não quero vingança, mas uma justiça que não chega. Quem é Battisti: ele começou na política dentro do cárcere, detido que estava por crimes comuns, aí conheceu o terrorista de extrema esquerda, Arrigo Cavallina.
A primeira vítima dos Proletários Armados para o Comunismo – PAC, foi o suboficial da guarda carcerária Antonio Santoro.

Quando este sai de casa para o trabalho, Battisti lhe atira nas costas (6/6/1978). Retornando ao seu grupo ele conta excitado à sua companheira, os efeitos de ver “alguém jorrando sangue”. Depois de uma série de assaltos o grupo resolve centrar contra aos agentes da “contra-revolução”, isto é, comerciantes que haviam reagido contra assaltos comuns.
Inicialmente pensou-se em somente feri-los, mas a vontade de mostrar a própria força a outros grupos de terroristas de esquerda, convence o PAC que é necessário fazer ver que se é capaz de matar. Chegaram a nosso açougue pelas 4 e meia da tarde. Meu pai, ajudado por minha mãe atendiam a algum cliente, eu estava nos fundos falando ao telefone, quando ouvi os tiros de pistola que ribombavam nos meus ouvidos, apavorado corri para nossa casa que ficava no andar superior, depois de longíssimos minutos vi homens que saiam num carro em disparada. Quando cheguei ao açougue, vi minha mãe com o avental branco todo ensangüentado e meu pai no chão dentro de uma poça de sangue, a ambulância chegou rapidamente, mas nada pode fazer.
Nos processos, seja a perícia e o testemunho de um arrependido, fez ver que Battisti tinha dado, sem piedade, os tiros mortais em meu pai. Battisti esteve sempre presente no grupo armado, colocando à disposição sua experiência de bandido e ficou conhecido por sua determinação em matar, jamais hesitando em fazê-lo.
Por todos estes crimes Battisti cumpriu somente um ano da cadeia, enquanto minha vida ficou completamente destruída, me vi aos 17 anos como o chefe de família e um vazio que com o tempo só fez aumentar. Não pode existir paz sem justiça e a minha família, justiça não a teve.
Não consigo entender o que levou vosso ministro da Justiça e classificar Battisti como um refugiado político, declarando que na Itália existem aparatos ilegais de repressão ligados a Máfia e a CIA (Central Intelligence Agency), por isso não pode conceder a extradição, o fato me parece uma folia e mais que isso, ofensivo à nossa democracia.
Peço que façam um apelo ao vosso presidente para que reveja essa decisão.
Adriano Sabbadin”

(*) Contrappasso, do latim “contra e patior”, sofrer ao contrário. No Inferno de Dante é uma pena que consiste no infligir ao culpado a mesma ofensa que ele infligiu aos outros.
(*) Fotomontagem: O homicida Battisti e Adriano Sabbadin com a foto do pai assassinado por Battisti.

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