Defesa de outros réus acusados abandonou a sala do tribunal.
Apenas uma testemunha foi ouvida no primeiro dia.
Por - Ricardo Soares
Contagem, MG
Um dos julgamentos mais esperados dos últimos tempos, o do ex-goleiro
Bruno, acusado de ter mandado matar a ex-amante, começou com confusão.
Em Contagem, Minas Gerais, sede do julgamento, a defesa de outros réus
abandonou a sala do tribunal. Apenas uma testemunha foi ouvida no
primeiro dia.
Durante as duas horas e meia do depoimento, Cleiton Gonçalves, amigo de
Bruno, confirmou o que já tinha dito à polícia: que teria ouvido o
primo do goleiro, Sérgio Rosa Sales, afirmar que o corpo de Eliza tinha
sido atirado aos cães, e ainda que, na véspera do crime, foi impedido
por Bruno de entrar na casa do sítio, em Esmeraldas, porque o goleiro
alegou que Eliza estava lá dentro.
Cleiton Gonçalves admitiu que levou a Range Rover do goleiro, onde
havia manchas de sangue de Eliza, para um lava-jato. O carro foi
apreendido numa blitz e teria sido usado para transportar Eliza Samúdio e
o filho de Bruno do Rio de Janeiro para Minas Gerais.
Cleiton confirmou uma informação nova que o veículo estava sendo levado
para lavagem a óleo diesel, porque a lavagem com água não foi
suficiente para tirar a mancha de sangue. A sessão começou com uma hora
de atraso e foi marcada por muita discussão entre os advogados e a
juíza.
A defesa de Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, acusado de ser o
executor de Eliza, abandonou o caso. Foi um protesto contra o tempo
fixado pela juíza para a apresentação do caso aos jurados. “Os réus
estão presos há três anos. Ela quer calar em 30, 20 minutos, o direito
de defesa”, afirma Fernando Oliveira Castro, advogado de defesa de Bola.
Bola não aceitou um defensor público. O julgamento dele foi desmembrado
e adiado por, pelo menos, dez dias. O ex-policial foi levado de volta à
penitenciária. Outro réu que deixou o plenário no meio da sessão foi
Macarrão. Alegou que estava passando mal e foi levado de volta ao
presídio.
Bruno e Macarrão respondem por homicídio qualificado, sequestro e
cárcere privado de Eliza e do filho dela e ocultação de cadáver. Bola
responde por homicídio qualificado e ocultação de cadáver. Dayanne é
acusada de participar do sequestro e cárcere privado de Bruninho.
Fernanda responde por sequestro e cárcere privado de Eliza e do bebê.
O advogado de Bruno sustenta a tese de que Eliza Samúdio não está
morta. “Os jurados têm que julgar com a lei, e a lei é o seguinte: tem
que ter o corpo de delito, o cadáver. Se não tiver, os vestígios
substituem. Se não tiver, prova testemunhal, mas uma prova forte, e, no
caso, foi a prova de um menor que confessou na polícia e desmentiu na
Justiça. Essa prova testemunhal não vale”, afirma Rui Pimenta.
A mãe de Eliza Samúdio veio de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, para
acompanhar o julgamento. “Hoje é um dia de luto, hoje começa minha luta,
minha luta pela justiça, hoje começa a batalha”, diz Sônia de Fátima
Moura.
Duas delegadas estão entre as quatro testemunhas de acusação que serão
ouvidas nesta terça-feira. Uma delas foi quem ouviu o primo de Bruno,
menor na época, relatar os últimos passos de Eliza antes do assassinato.
Cenas
A juíza Marixa Fabiane Rodrigues não permitiu que fossem gravadas
imagens durante o júri. O ilustrador do G1, Léo Aragão, estava dentro do
fórum e
retratou algumas cenas.
Às 10h20, começou a ser feita a seleção do júri entre os candidatos,
cidadãos da cidade de Contagem, que já tinham sido pré-selecionados. No
alto, ficou a juíza, que está sentada ao lado do promotor Henry Castro.
Seis mulheres e um homem foram escolhidos pelos advogados de defesa e
pela acusação. Os réus acompanham tudo sentados no canto esquerdo do
plenário, de frente para a juíza.
Bruno passou a maior parte do tempo de cabeça baixa.
Dayanne Rodrigues, ex- mulher de Bruno, está ao lado dele, vestida de
branco. Com as mãos cruzadas, mexe bastante com os dedos. Um pouco
atrás, fica Fernanda Gomes de Castro, ex-namorada do goleiro.
No começo da noite, ocorre o único depoimento do dia, de Cleiton
Gonçalves. O promotor Henry Castro está de braços cruzados. A juíza
acompanha tudo com uma xícara de café na mão. Do outro lado, fica a
advogada de Fernanda, a ex-namorada de Bruno.
No fim do dia, foram divulgadas duas fotos do tribunal do júri. Em uma
delas, a juíza Marixa trabalha no computador. O advogado de Bruno, Rui
Pimenta, está de pé, ao lado da mesa. Mais atrás, está Bruno, no banco
dos réus. Dayanne, a ex-mulher do goleiro, está ao lado.
Na outra foto, o advogado Rui Pimenta conversa com Bruno.