Antonio Nunes de Souza* |
Encontro
fatídico!
Antonio Nunes de Souza*
Com um título desses parece
ser uma das manchetes escandalosas dos jornais para comentar um crime hediondo
qualquer, tão comum no nosso dia-a-dia. Mas, na verdade, trata-se apenas de um
encontro com um velho amigo, na praça de alimentação do shopping, nosso único
point itabunense que ainda se pode freqüentar com dignidade e encontrar um
ambiente agradável e salutar!
Observei a passagem de um
velho, careca, gordo desproporcional a sua altura, óculos na ponta do nariz, e
tão curvado para frente que mais parecia uma árvore sendo açoitada por uma
ventania. Olhei para o seu rosto e, para minha surpresa, tratava-se de um
colega de infância bem mais novo que eu, mas, companheiro em muitas das nossas
aventuras.
-Oi Geraldo, não está me
reconhecendo não?
-Poxa rapaz, você não é
Antonio Manteiga?
-Claro cara! Tem tanto tempo
que não lhe vejo que estranhei quando você passou. Mas seus traços fisionômicos
ainda são, relativamente, os mesmos.
-Porra meu irmão creio que é
a única coisa que me restou nessa velhice filho da puta.
-Mas meu amigo você está
desfrutando da terceira idade, também chamada de “melhor idade”.
-O sacana que arranjou essa
titularidade deve ter sido algum médico geriatra que, querendo encher o cu de
dinheiro, tentou enganar os velhinhos com esse papo de jacaré. Depois dos
sessenta mermão a coisa pega pra caralho. E, o dia que você não amanhecer com
alguma dor, pode ter certeza que morreu enquanto estava dormindo.
-O que é isso cara! Sou mais
velho que você e ainda não tenho queixas.
-Pois eu tenho as piores do
mundo. E, como você é meu amigo, vou lhe confessar, pois para os outros, eu
tiro uma onda que tudo vai bem. Vou começar pelo problema urinário: tenho que
mijar quase toda hora, até durante a noite. E depois de uma mijada, antes eu
apertava o cu três vezes e não ficava nem uma gota. Hoje tenho que apertar o cu
seis ou sete vezes senão quando sair do sanitário e apertar o furico, vem logo
uma esguichada na calça. E no dia que descobri isso, foi bem aqui nesse lugar.
Corri me sentei e pedi uma mineral, fiz que era um acidente e derramei o copo
na roupa para justificar a molhação e tive que ir correndo para casa.
-Porra! Que vexame retado em
mano?
-Isso não é nada cara! Pior é
ter que sacudir aquele monte de pelancas depois da mijada que, nem aquela velha
e antiga tesão de mijo o filho da puta não se pronuncia. Olho para ele com o
maior desprezo.
-E você tem se alimentado
bem?
-Só não mando você ir tomar
na bunda porque não lhe vejo há muito tempo, mas, perguntar isso é foda. Não
posso comer quase porra nenhuma. Uma coisa é ruim para os rins, outra para o
coração, outra para o intestino e algumas outras para o fígado. Tomo seis
remédios por dia, tenho que anotar em uma agenda para não esquecer essas
merdas. Você não está vendo eu meio
gordinho? Pelanca pura cara! Fui olhar minha bunda outro dia no espelho quase
choro. Está mais caída que a bolsa de NY em 1929. Parece um maracujá gigante
que além de murcha, ainda está com uma rachadura no meio.
-Porra compadre, você parece
que está fodido!, Mas, pelo menos ainda tem disposição para passear no
shopping, ver amigos, etc.
- Ah Ah Ah! Você esta me
gozando. Eu vim aqui para comprar remédios, pois é o lugar mais perto da minha
casa. Mas, estou cansado pra caralho com essa caminhada.
-E o intestino funciona bem?
-Bem mal. Tenho uma prisão de
ventre daquelas bem brabas. E ainda peido o dia todo e toda hora. Às vezes vou
andando e pareço uma motocicleta, pois vou peidando tipo carretilha. Já passei
vários vexames por causa disso. Nem meu cu me respeita mais.
-Felizmente a visão não lhe
atrapalha.
-Graças a Deus não, mas,
recentemente, tive que fazer duas operações de cataratas.
-Porra cara você também se
lamenta muito. Pelo menos está vivo e ouvindo muito bem.
-Isso está sim, porém tive
que colocar um aparelho, pois, nem a televisão com o volume tudo aberto eu
ouvia.
-Bem, vou chegando e foi um
prazer ter lhe encontrado depois de tanto tempo. Um grande abraço e muita saúde
é o que lhe desejo.
-Muito obrigado Manteiga. Foi
uma satisfação vê-lo forte e tranqüilo. Vou agora direto para a academia fazer
fisioterapia, pois estou com uma atrofia nos joelhos e nos pés.
Fiquei pasmo com o que ouvi e
a única expressão que me veio à mente foi: Meu amigo está, literalmente,
fodido!!!
*Escritor – Membro da
Academia Grapiúna de Letras – antoniodaagral26@hotmail.com
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