terça-feira, 11 de março de 2014

Encontro fatídico!: ARTIGO DE ANTONIO NUNES

Antonio Nunes de Souza*
Encontro fatídico!
                             Antonio Nunes de Souza*
Com um título desses parece ser uma das manchetes escandalosas dos jornais para comentar um crime hediondo qualquer, tão comum no nosso dia-a-dia. Mas, na verdade, trata-se apenas de um encontro com um velho amigo, na praça de alimentação do shopping, nosso único point itabunense que ainda se pode freqüentar com dignidade e encontrar um ambiente agradável e salutar!


Observei a passagem de um velho, careca, gordo desproporcional a sua altura, óculos na ponta do nariz, e tão curvado para frente que mais parecia uma árvore sendo açoitada por uma ventania. Olhei para o seu rosto e, para minha surpresa, tratava-se de um colega de infância bem mais novo que eu, mas, companheiro em muitas das nossas aventuras.
-Oi Geraldo, não está me reconhecendo não?
-Poxa rapaz, você não é Antonio Manteiga?
-Claro cara! Tem tanto tempo que não lhe vejo que estranhei quando você passou. Mas seus traços fisionômicos ainda são, relativamente, os mesmos.
-Porra meu irmão creio que é a única coisa que me restou nessa velhice filho da puta.
-Mas meu amigo você está desfrutando da terceira idade, também chamada de “melhor idade”.
-O sacana que arranjou essa titularidade deve ter sido algum médico geriatra que, querendo encher o cu de dinheiro, tentou enganar os velhinhos com esse papo de jacaré. Depois dos sessenta mermão a coisa pega pra caralho. E, o dia que você não amanhecer com alguma dor, pode ter certeza que morreu enquanto estava dormindo.
-O que é isso cara! Sou mais velho que você e ainda não tenho queixas.
-Pois eu tenho as piores do mundo. E, como você é meu amigo, vou lhe confessar, pois para os outros, eu tiro uma onda que tudo vai bem. Vou começar pelo problema urinário: tenho que mijar quase toda hora, até durante a noite. E depois de uma mijada, antes eu apertava o cu três vezes e não ficava nem uma gota. Hoje tenho que apertar o cu seis ou sete vezes senão quando sair do sanitário e apertar o furico, vem logo uma esguichada na calça. E no dia que descobri isso, foi bem aqui nesse lugar. Corri me sentei e pedi uma mineral, fiz que era um acidente e derramei o copo na roupa para justificar a molhação e tive que ir correndo para casa.
-Porra! Que vexame retado em mano?
-Isso não é nada cara! Pior é ter que sacudir aquele monte de pelancas depois da mijada que, nem aquela velha e antiga tesão de mijo o filho da puta não se pronuncia. Olho para ele com o maior desprezo.
-E você tem se alimentado bem?
-Só não mando você ir tomar na bunda porque não lhe vejo há muito tempo, mas, perguntar isso é foda. Não posso comer quase porra nenhuma. Uma coisa é ruim para os rins, outra para o coração, outra para o intestino e algumas outras para o fígado. Tomo seis remédios por dia, tenho que anotar em uma agenda para não esquecer essas merdas.  Você não está vendo eu meio gordinho? Pelanca pura cara! Fui olhar minha bunda outro dia no espelho quase choro. Está mais caída que a bolsa de NY em 1929. Parece um maracujá gigante que além de murcha, ainda está com uma rachadura no meio.
-Porra compadre, você parece que está fodido!, Mas, pelo menos ainda tem disposição para passear no shopping, ver amigos, etc.
- Ah Ah Ah! Você esta me gozando. Eu vim aqui para comprar remédios, pois é o lugar mais perto da minha casa. Mas, estou cansado pra caralho com essa caminhada.
-E o intestino funciona bem?
-Bem mal. Tenho uma prisão de ventre daquelas bem brabas. E ainda peido o dia todo e toda hora. Às vezes vou andando e pareço uma motocicleta, pois vou peidando tipo carretilha. Já passei vários vexames por causa disso. Nem meu cu me respeita mais.
-Felizmente a visão não lhe atrapalha.
-Graças a Deus não, mas, recentemente, tive que fazer duas operações de cataratas.
-Porra cara você também se lamenta muito. Pelo menos está vivo e ouvindo muito bem.
-Isso está sim, porém tive que colocar um aparelho, pois, nem a televisão com o volume tudo aberto eu ouvia.
-Bem, vou chegando e foi um prazer ter lhe encontrado depois de tanto tempo. Um grande abraço e muita saúde é o que lhe desejo.
-Muito obrigado Manteiga. Foi uma satisfação vê-lo forte e tranqüilo. Vou agora direto para a academia fazer fisioterapia, pois estou com uma atrofia nos joelhos e nos pés.
Fiquei pasmo com o que ouvi e a única expressão que me veio à mente foi: Meu amigo está, literalmente, fodido!!!

*Escritor – Membro da Academia Grapiúna de Letras – antoniodaagral26@hotmail.com

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