sábado, 22 de dezembro de 2012

Dirceu tem momentos de tensão à espera da polícia


 
sábado, 22/12/2012 - 08:34

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Dirceu: “É preciso trabalhar. A esquerda nunca teve uma vida tranquila no Brasil nem no mundo. Nunca usufruiu das benesses do poder.”

O interfone tocou ontem às 5h30 da manhã na casa do ex-ministro José Dirceu, na Vila Mariana, em São Paulo. Um de seus advogados, Rodrigo Dall’Acqua, e a Folha pediam para subir. O porteiro hesita. “Como é o seu nome? Ele [Dirceu] não deixou autorização para vocês subirem, a gente não chama lá cedo assim.”

Ele acaba tocando no apartamento do ex-ministro, ninguém atende. Dall’Acqua liga para o advogado José Luis Oliveira Lima, que está a caminho. Telefonemas são trocados, e Dirceu autoriza a subida.

Na saída do elevador, o ex-ministro abre a porta de madeira que dá para o hall. Por uma fresta, pede alguns minutos para se trocar.

Pega a Folha entre vários jornais sobre uma mesa. Comenta algumas notícias. Nada sobre a possibilidade de Joaquim Barbosa, presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), decretar a sua prisão ainda naquela manhã.

Está de camiseta preta e calça jeans cinza. Senta no sofá da sala. A empregada ainda não chegou. Ele se desculpa. Não tem nada o que servir.

“Eu não vou dar entrevista para você, não”, diz à colunista da Folha. “Podemos conversar, mas não quero gravar. Não estou com cabeça. Dar uma entrevista agora, sem saber se vou ser preso? É loucura, eu não consigo.”

E, diante da insistência: “Estou com uma intuição, não devo dar”.

Os advogados alertam: se houver ordem de prisão, a polícia deve chegar em meia hora, às 6h. Se até as 7h nenhuma viatura aparecer, é porque eventual ordem só sairia mais tarde. Ou então Barbosa não decretaria a prisão (o que acabou ocorrendo).

A Folha questiona se ele já tinha preparado a mala para ir para um presídio. “Eu não. Eu fui procurar, estou sem mala aqui. Achei uma mochila esportiva. Depois o Juca [o advogado José Luis Oliveira Lima] leva as coisas para mim. Ele vai ser a minha babá.” No primeiro momento, só os advogados podem visitar o detento.

“Os policiais dão um tempo para a pessoa se arrumar [antes de levá-la presa]“, explica Oliveira Lima.
Dirceu diz acreditar que Joaquim Barbosa não determinará a sua reclusão. “Ele não vai fazer, ele estaria rasgando a Constituição.”

Diz que não está com medo da prisão. “Eu me organizo. Eu vou voltar a estudar. Vou fazer um mestrado, alguma coisa. E tenho que imediatamente começar a trabalhar na prisão. Até para começar a abater da pena.”

“Se eu for para [a penitenciária de] Tremembé 2 [no Vale do Paraíba], dá para trabalhar.” O presídio ofereceria as condições necessárias.

“Eu não sou uma pessoa de me abater. Eu não costumo ter depressão. Mas a gente nunca sabe o que vai acontecer. Uma coisa é falar daqui de fora, né? A outra é quando eu estiver lá dentro. Eu posso ter algum tipo de abatimento, sim, de desânimo. Tudo vai depender das condições da prisão. Às vezes elas são muito ruins, isso pode te abater muito.”

LEITURA

Dirceu ainda não sabe se, na cela, terá acesso a livros, jornais, iPad. “A lei permite, para o preso trabalhar e estudar. Tem gente aí até querendo mudar essa lei. Foi aprovada proibição no Senado, o PT bloqueou na Câmara.”

Se puder acessar publicações, acredita que o tempo passará mais rápido. “São 33 meses. Não é fácil.”

Analisa que poderá ser colocado numa cela com outro preso. “Isso pode ser bom, mas pode ser ruim também. Vai depender da pessoa.”

ESCOLA DO CRIME

Diz que não tem medo de sofrer eventual violência no presídio. “Mas em termos. É um ambiente de certo risco.”

Acha que o sistema carcerário nunca vai melhorar. “Isso não é prioridade de nenhum governo, nem dos governos do PT”, afirma.

“Nenhum governo nosso se preocupou com essa questão, nenhum Estado se preocupou em ter um sistema modelo. É caro, não tem dinheiro. O governo federal é que deveria dar os recursos. Nós [no governo Lula] fizemos, construímos os presídios federais para isolar os presos de maior periculosidade. Tinha que fazer, senão virava uma escola do crime.”

Os advogados consultam o telefone, os assessores leem jornais e a internet em busca de alguma pista sobre a decisão que Joaquim Barbosa em breve tomará.

“Se ele [Barbosa] mandar me prender, vai pedir para que nos apresentemos, vocês não acham?”, pergunta Dirceu aos advogados. “Não vão mandar polícia aqui, eu acho que ele vai dar algumas horas para eu me apresentar em algum lugar.”

“Para mim é uma tragédia ser preso aos 66 anos. Eu vou sair da cadeia com 70. São mais de três anos. Porque parte [da pena] é cumprida em regime fechado, mas depois [no semiaberto] vou ter que dormir todos os dias na cadeia. Sabe o que é isso?”

“Eu perdi os melhores anos da minha vida nesses últimos sete anos [em que teve que se defender das acusações de chefiar a quadrilha do mensalão]. Os anos em que eu estava mais maduro, em que eu poderia servir ao país”, diz. (Mônica Bergamo, Folha de São Paulo)
www.jornaldamídia

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