Por -
REINALDO AZEVEDO
A
presidente Dilma Rousseff e o senador Aécio Neves (PSDB-MG) voltaram a
trocar farpas sobre a criação do Bolsa Família. A presidente insiste em
que a criação do cadastro único de
beneficiados
por programas sociais é iniciativa do governo do PT. É mentira! Não é
não. Aécio diz que o Bolsa Família é a reunião de programas sociais que
existiam no governo FHC. É verdade. Um decreto de Lula o demonstra.
O Apedeuta, sim, era contra o Bolsa
Família.
Ele o considerava mera esmola, como deixa claro o vídeo abaixo. Aí
temos Lula em dois momentos, afirmando coisas opostas. Já presidente,
defendia o programa. Na oposição, ele o atacava. Vejam. Volto em
seguida.
Voltei
Mais do que isso. No dia 26 de agoto de 2010, publiquei um post
demonstrando que Lula considerava que o Bolsa Família deixava os pobres
vagabundos. E demonstrei ali, com todas as letras, que o decreto de
Lula, que criou o Bolsa Família, incorporava os programas da gestão FHC.
Leiam.
*
“Como é mesmo? Segundo um novo Datafolha, a
diferença entre Dilma e Serra oscilou para 20 pontos? Os petralhas não
descansam nem de madrugada — creiam (devem ganhar bem!) — e anunciam que
eu já perdi a
eleição?
Então eu vou lhes mostrar como me comporto em meio àqueles que já
disputam o seu lugar à grama. E por que vou fazer o que segue? Por
apreço à verdade. E porque, como escrevi naquele texto quanto estava em
Dois Córregos, Corisco só se entrega na morte de parabelo na mão, hehe.”
Ontem,
na impressionante coleção de invencionices a que se entregou em cima do
palanque, Lula afirmou que setores “elitistas” o criticaram por causa
do Bolsa Família. Também é mentira. O único “elitista” contrário ao
programa era… Lula!!! E dá para provar. Quando o Babalorixá chegou ao
poder, inventou que o Brasil padecia de uma fome africana — que já havia
sido superado havia duas décadas ao menos. E criou o natimorto programa
Fome Zero, lembram-se? O que era mero golpe publicitário de Duda
Mendonça virou estandarte do governo. Havia quatro programas de renda do
governo FHC: Auxílio-Gás, Bolsa Alimentação, Bolsa Escola e Bolsa
Renda. Lula os juntou depois e os chamou de Bolsa Família. Isso é
história. Mas, antes de fazê-lo, falou muita bobagem. E depois também.
No
dia 9 de abril de 2003, com o Fome Zero empacado, Lula fez um discurso
no semi-árido nordestino, na presença de Ciro Gomes, em que disse com
todas as letras que acreditava que os programas que geraram o Bolsa
Família levavam os assistidos à vagabundagem. Querem ler? Pois não!
Eu, um dia desses, Ciro [Gomes, ministro da Integração Nacional], estava em Cabedelo, na Paraíba, e tinha um encontro com os trabalhadores
rurais, Manoel Serra [presidente da Contag - Confederação Nacional dos
Trabalhadores na Agricultura], e um deles falava assim para mim: “Lula,
sabe o que está acontecendo aqui, na nossa região? O povo está
acostumado a receber muita coisa de favor. Antigamente,
quando chovia, o povo logo corria para plantar o seu feijão, o seu
milho, a sua macaxeira, porque ele sabia que ia colher, alguns meses
depois. E, agora, tem gente que já não quer mais isso porque fica
esperando o ‘vale-isso’, o ‘vale-aquilo’, as coisas que o Governo criou
para dar para as pessoas.” Acho que isso não contribui com as
reformas estruturais que o Brasil precisa ter para que as pessoas possam
viver condignamente, às custas do seu trabalho. Eu sempre disse que não
há nada mais digno para um homem e para uma mulher do que levantar de
manhã, trabalhar e, no final do mês ou no final da colheita, poder comer
às custas do seu trabalho, às custas daquilo que produziu, às custas
daquilo que plantou. Isso é o que dá dignidade. Isso é o que faz as
pessoas andarem de cabeça erguida. Isso é o que faz as pessoas
aprenderem a escolher melhor quem é seu candidato a vereador, a
prefeito, a deputado, a senador, a governador, a presidente da
República. Isso é o que motiva as pessoas a quererem aprender um pouco
mais.
Notaram a verdade de suas palavras? A convicção profunda? Então…
No
dia 27 de fevereiro de 2003, Lula já tinha mudando o nome do programa
Bolsa Renda, que dava R$ 60 ao assistido, para “Cartão Alimentação”.
Vocês devem se lembrar da confusão que o assunto gerou: o cartão
serviria só para comprar alimentos?; seria permitido ou não comprar
cachaça com ele?; o beneficiado teria de retirar tudo em espécie ou
poderia pegar o dinheiro e fazer o que bem entendesse?
A questão
se arrastou por meses. O tal programa Fome Zero, coitado!, não saía do
papel. Capa de uma edição da revista Primeira Leitura da época:
“O Fome Zero não existe”. A imprensa petista chiou pra chuchu.
No
dia 20 de outubro, aquele mesmo Lula que acreditava que os programas de
renda do governo FHC geravam vagabundos, que não queriam mais plantar
macaxeira, fez o quê? Editou uma Medida Provisória e criou o Bolsa
Família? E o que era o Bolsa Família? A reunião de todos os programas
que ele atacara em um só. Assaltava o cofre dos programas alheios,
afirmando ter descoberto a pólvora. O texto da MP não deixa a menor
dúvida:
(…) programa de que trata o
caput tem por finalidade a unificação dos procedimentos de gestão e
execução das ações de transferência de renda do Governo Federal,
especialmente as do Programa Nacional de Renda Mínima vinculado à
Educação – “Bolsa Escola”, instituído pela Lei n.°
10.219, de 11 de abril de 2001, do Programa Nacional de Acesso à
Alimentação – PNAA, criado pela Lei n.° 10.689, de 13 de junho de 2003,
do Programa Nacional de Renda Mínima vinculado à Saúde – “Bolsa Alimentação”, instituído pela medida provisória n.° 2.206-1, de 6 de setembro de 2001, do Programa Auxílio-Gás,
instituído pelo Decreto n.° 4.102, de 24 de janeiro de 2002, e do
Cadastramento Único do Governo Federal, instituído pelo Decreto n.°
3.877, de 24 de julho de 2001.
Compreenderam? Bastaram sete
meses para que o programa que impedia o trabalhador de fazer a sua
rocinha virasse a salvação da lavoura de Lula. E os assistidos passariam
a receber dinheiro vivo. Contrapartidas: que as crianças freqüentassem a
escola, como já exigia o Bolsa Escola, e que fossem vacinadas, como já
exigia o Bolsa Alimentação, que cobrava também que as gestantes fizessem
o pré-natal! Esse programa era do Ministério da Saúde e foi
implementado por Serra.
E qual passou a ser, então, o discurso de Lula?
Ora, Lula passou a atacar aqueles que diziam que programas de renda
acomodavam os plantadores de macaxeira, tornando-os vagabundos, como se
aquele não fosse rigorosamente o seu próprio discurso.
No dia 23
de março de 2005, em Cuiabá, atirava contra as pessoas supostamente
contrárias ao Bolsa Família. Leiam e confrontem com o que ele próprio
dizia em 2003:
Eu sei que tem gente
que fala: “Não, mas esse presidente está com essa política do programa
Fome Zero, do Bolsa Família, isso é proselitismo, isso é esmola.” Eu sei
que tem gente que fala assim. Lógico, o cidadão que toma café de manhã,
almoça e janta todo santo dia, para ele Bolsa Família não significa
nada, ele não precisa. E ainda mais se ele puder fazer uma crítica a mim
tomando uma Coca-Cola em um bar, um uísque ou uma cerveja. Agora, tem
pessoas que, se a gente não der essa ajuda, não conseguem comer as
calorias e as proteínas necessárias à vida humana. E se for uma criança
de antes de seis anos de idade, nós sabemos que essa criança poderá ter o
seu cérebro atrofiado e nunca mais se recuperar.
Quando eu
vou parar de evidenciar as mistificações de Lula? Nunca! Quanto mais
“popular” ele fica, mais considero este trabalho uma obrigação moral.
(Blog de Reinaldo Azevedo)
Do - jornaldamídia