Foi em outubro de 2008 que eu, estudante de jornalismo dando adeus à Universidade Federal do Ceará (UFC), deparei com um trailer da União Nacional dos Estudantes estacionado dentro do campus do Benfica, próximo à reitoria, que se apresentava como a parada em Fortaleza da "Caravana da UNE de saúde, educação e cultura". Concluí logo que duas coisas seriam obrigatórias naquela história: picaretagem e maracatu.
Em consonância com a política de Temporão, o pessoal da caravana distribuía camisinhas e debatia "direitos sexuais e reprodutivos". "Direito reprodutivo", traduzindo da novilíngua esquerdista para o português normal, significa direito ao aborto. A programação do dia era encerrada com maracatu e grupos folclóricos, para o contentamento de todas as doze pessoas na platéia.
Dias depois da passagem por Fortaleza, os líderes da UNE se reuniram com Lula em Brasília e pediram a saída do ministro Temporão, em razão do descalabro da rede pública de saúde e... Brincadeira, pessoal. Eles pediram foi a saída do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, como parte da encenação de rebeldia que lhes garante as verbas milionárias gentilmente cedidas pelos pagadores de impostos.
De 2004 a 2009, os pagadores de impostos já haviam dado R$ 10 milhões para as juventudes do PT e do PC do B, formadas por jovens de 30 a 50 anos, muitos dos quais ingressaram na faculdade no governo Figueiredo e continuam lá, lutando pela educação pública-gratuita-e-de-qualidade.
A cifra explica por que Lula quase foi esmagado pelo deslocamento de ar proveniente dos aplausos frenéticos, dois anos atrás, no 51º Congresso Nacional da UNE, a ponto de o ex-presidente ordenar que interrompessem a ovação para que ele pudesse tagarelar no palco: "Vocês vieram aqui para trabalhar ou para gritar?", perguntou Lula à claque, sabendo a resposta.
Começou ontem o 52º Congresso Nacional da UNE e Lula é novamente convidado de honra, desta vez trazendo Fernando Haddad debaixo do braço. Podemos chamá-los de safados, exploradores do povo, mas não de ingratos. Seguramente a UNE fará o que estiver ao seu alcance, incluindo o trabalho de "conscientização" dos estudantes, para tornar prefeito de São Paulo o ministro do português errado e do kit gay.
Publicado no jornal O Estado.
* Bruno Pontes é jornalista - http://brunopontes.blogspot.com