Após 94 dias de internamento, Haynarú Rudá, o curumim de maior prematuridade do Materno-Infantil de Ilhéus, recebe alta
Foram 94 dias de internamento, 71 deles nas Unidades de Terapia Intensiva do Hospital Materno-Infantil Dr. Joaquim Sampaio, unidade da Secretaria da Saúde da Bahia (Sesab) gerida pela Fundação Estatal Saúde da Família (FESF-SUS), em Ilhéus. Nesta quinta-feira (20), finalmente, a alta médica. Haynarú Rudá, o indígena com maior prematuridade já registrado desde a inauguração do HMIJS, segue para a Aldeia Itapoã, na região de Olivença, litoral sul do município, onde sua família reside. Uma despedida emocionante foi organizada pelos profissionais do Materno-Infantil. Haynarú Rudá, acompanhado dos pais, deixou o hospital sob aplausos, em meio a uma decoração com balões roxos (cor que simboliza a prematuridade) e brancos.
Para marcar essa grande vitória, a mãe, Laís, professora na aldeia e artista plástica, pintou uma camisa especialmente para a data. Haynarú Rudá também trouxe em sua vestimenta a marca da tradição de seu povo. Durante mais de três meses, os pais não se afastaram do hospital, e os profissionais que atuam na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) não mediram esforços para vencer o desafio da prematuridade. Na retaguarda, a equipe de terapeutas ocupacionais e psicólogos ajudou a garantir o bem-estar emocional da família.
“Foi nesse momento final, no (setor) Canguru (onde filhos e pais vivenciam uma proximidade maior), que realmente caiu a ficha. Foi um momento muito especial, em que toda a história passou pela minha cabeça e pude sentir que vencemos essa batalha”, afirma Laís Eduarda. Os últimos meses foram de muitas orações. Rituais com lideranças indígenas tupinambá – respeitando as tradições culturais dos dois povos – aconteceram no leito onde a mãe se recuperou nos primeiros dias após o parto e seguiram como uma rotina na área verde do hospital. Na Aldeia Itapoã, a comunidade se reuniu tradicionalmente todas as sextas-feiras para o Porancy (ritual sagrado), em intenção da recuperação do indígena. “Foi muito especial não ter saído de perto dele um só minuto sequer”, lembra Laís.
SUS para todos
O Hospital Materno-Infantil Dr. Joaquim Sampaio é a única unidade hospitalar da Bahia habilitada pelo Ministério da Saúde para atendimento aos povos indígenas. Para obter essa aprovação, o Materno-Infantil implementou diretrizes que norteiam o programa, desde a melhoria no acesso das populações indígenas ao serviço especializado até a adequação da ambiência de acordo com as especificidades culturais e a adaptação das dietas hospitalares conforme os hábitos alimentares de cada etnia. A iniciativa também inclui acolhimento humanizado e práticas de trabalho sensíveis à vulnerabilidade sociocultural e epidemiológica de alguns grupos.
Além disso, estão previstos fluxos de comunicação entre o serviço especializado e a Equipe Multidisciplinar de Saúde Indígena, por meio das Casas de Saúde Indígena (CASAI), bem como a qualificação dos profissionais que atuam nos estabelecimentos de assistência aos povos indígenas, abordando temas como interculturalidade.
O Hospital Materno-Infantil Dr. Joaquim Sampaio é a primeira maternidade 100% SUS da região sul da Bahia. Construído pelo Governo do Estado e entregue em dezembro de 2021, possui 105 leitos para obstetrícia, parto normaL e de alto risco, pediatria clínica, UTIs pediátrica e neonatal. Nestes três anos de funcionamento, registrou mais de nove mil nascimentos, dos quais quase 400 foram de bebês indígenas.
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