Foi nesta segunda-feira (11), que finalmente Emile Marques das Flores, de 32 anos, carregou no colo, pela primeira vez, o seu filho João Miguel, nascido no dia 23 de outubro, com apenas 29 semanas e seis dias de gestação. Agora pesando 1 kg e 300 gramas ele já oferece as mínimas condições clínicas para que a mãe possa sentir de perto o calor da sua pele, a sua evolução na UTI Neo do Hospital Materno-Infantil Dr. Joaquim Sampaio, em Ilhéus, e consiga comemorar as reações de quem há pouco mais de 15 dias luta pela vida com a ajuda de aparelhos e a dedicação do corpo técnico do HMIJS.
*Rotina difícil*
Ainda não há previsão de alta para o recém-nascido. A rotina de uma UTI é uma espécie de montanha-russa, como explica a psicóloga Renata Dourado. “Um dia o ânimo está lá em cima. Noutro, no fundo do poço”, assim define. Tanto que a maioria das puérperas evita falar sobre o que passam. O silêncio, muitas vezes, fala mais alto, entre doses de medo e de esperança. Nas UTIs do HMIJS há casos de internações que duraram cinco meses. E com a mãe o tempo todo ao lado do bebê.
É a própria Renata – uma das seis profissionais de psicologia da unidade - quem conduz, nos últimos dias, as rodas de conversas com as puérperas de recém-nascidos internados nas UTIs Neonatal, Intermediária e Canguru. E ela traz uma bagagem de quem já passou pelo mesmo drama. Há 17 anos, foi ela quem deu luz a um bebê prematuro com apenas 30 semanas de gestação. “O que vejo aqui e escuto muito é um conjunto de medo, de ansiedade, da perda, do desconhecido e até de impotência. Tudo o que senti também”, assegura, acrescentando que a maioria – como é o caso de Emile – é mãe-solo e é fundamental esse trabalho de suporte que o hospital oferece.
*Novembro Roxo*
O Novembro Roxo – comemorado durante este mês - é uma campanha internacional que visa conscientizar e sensibilizar a população sobre a prematuridade e a importância de cuidar dos prematuros, ou seja, quem nasce antes das 37 semanas de gestação. Estima-se que cerca de 12 por cento dos bebês nascidos em solo nacional são acometidos pela prematuridade, sendo ela a principal causa de mortalidade infantil em crianças menores de cinco anos. Ao nível global, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 15 milhões de crianças são afetadas pela condição e mais de um milhão de bebês morrem devido à prematuridade.
“Aqui só saio com ele no colo”, revela uma resiliente Emile. “Aqui está sendo uma verdadeira experiência de vida. Vivemos os nossos dramas e não deixamos também de sofrer com o drama das outras mães que vivem a mesma realidade minha. É difícil presenciar o registro de um óbito e não sentir a mesma dor da mãe biológica. Mas olho para o meu e sinto meu coração acelerado de expectativas. Nada abala a minha fé”, assegura.
*Importante eixo de atuação*
“A prevenção do parto prematuro é um dos eixos estratégicos de atuação do Hospital Materno-Infantil”, destaca a diretora-geral do HMIJS, Domilene Borges. Para tanto, de acordo com a diretora, é preciso garantir equidade no acesso à saúde para as gestantes, parturientes, puérperas e recém-nascidos. No próximo dia 18, por exemplo, o HMIJS realiza uma roda de conversa com abordagem da equipe multiprofissional mostrando a importância do tema da campanha deste ano “Acesso a cuidados maternos e neonatais de qualidade em todos os lugares”. “É hora de ouvir depoimentos, trocar experiências, fortalecer a roda de apoio”, completa Renata Dourado.
O Hospital Materno-Infantil – obra do governo do estado administrada pela Fundação Estatal Saúde da Família (FESF SUS) - conta com 105 leitos, destinados à obstetrícia, à gestação de alto risco, pediatria clínica, UTI pediátrica, UTI neonatal e centro de parto normal, integrados à Rede Cegonha e atenção às urgências e emergências, com funcionamento 24 horas e acesso por demanda espontânea e referenciada de parte significativa da região sul da Bahia. O investimento foi de aproximadamente 40 milhões de reais, entre obras e equipamentos. Em dois anos e 11 meses de funcionamento o hospital está próximo a registrar a marca de 9 mil partos. Ascom
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