sábado, 6 de setembro de 2025

Jornalista à Deriva:

Jornalista à Deriva: profissão em risco no Brasil do século XXI

* Joselito dos Reis
O jornalismo, historicamente reconhecido como uma das principais ferramentas de defesa da democracia e da cidadania, atravessa uma crise sem precedentes. No Brasil, sobretudo no interior, o ofício caminha para a beira da extinção — e não apenas pelo avanço das novas tecnologias, mas também pela falta de proteção institucional e pelo processo de banalização da profissão.

Com a chegada da internet, a extinção gradual dos jornais impressos e a terceirização dos espaços jornalísticos em emissoras de rádio — cada vez mais vendidos a igrejas ou entidades privadas — abriu-se uma brecha perigosa: “todos” passaram a se autodeclarar jornalistas ou radialistas. Esse fenômeno transformou o setor em um terreno sem regulamentação, onde o uso indevido da profissão deixou de ser exceção e passou a ser regra.

Blogs e sites proliferaram, ocupando o espaço do jornalismo profissional. Não se trata de negar a importância dessas ferramentas de comunicação, mas de constatar que, em sua maioria, foram apropriadas por pessoas sem preparo técnico, sem compromisso ético e sem formação específica. O resultado é que o texto — antes a principal mercadoria do jornalista, fruto de apuração rigorosa e análise crítica — perdeu valor e visibilidade.

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais da Bahia (Sinjorba) já reconhece essa realidade: o setor foi um dos mais invadidos do mercado de trabalho brasileiro, deixando milhares de profissionais à deriva, sem entidades fortes de amparo ou fiscalização. O jornalista, que já foi guardião da informação e do debate público, hoje encontra-se “em alto-mar, sem bússola e sem salva-vidas”.

Nos últimos vinte anos, a globalização e a precarização das relações de trabalho contribuíram para a banalização de diversas profissões. No entanto, poucas foram tão afetadas quanto o jornalismo. Se antes a figura do repórter era sinônimo de credibilidade e voz ativa da sociedade, hoje o que se vê é a substituição desse profissional por improvisos comunicacionais, discursos prontos e interesses econômicos ou religiosos.

Agora, com a chegada da Inteligência Artificial, esse cenário se agrava. Ferramentas tecnológicas — que podem ser aliadas quando usadas de forma ética e complementar — acabam reforçando a sensação de que o jornalista é dispensável. Ao invés de potencializar a apuração e a criatividade, a IA tem sido vista por muitos empresários da comunicação como um atalho para reduzir custos, substituindo o humano pelo algoritmo.

Assim, o jornalista parece condenado a viver de sonhos, enquanto sua profissão é corroída pela indiferença social e pelo descaso político.

O futuro: resistência ou naufrágio?

O quadro é sombrio, mas não definitivo. A profissão precisa se reinventar e reencontrar seu espaço de relevância. Isso passa por fortalecer sindicatos, atualizar currículos universitários, cobrar fiscalização das práticas indevidas e, sobretudo, resgatar o valor do jornalismo ético, crítico e comprometido com a verdade.

O jornalista pode até estar à deriva, mas não deve se conformar com o naufrágio. A resistência é o último recurso — e talvez a única esperança de que, no futuro, a sociedade volte a reconhecer o jornalista como um farol em meio às tempestades da informação.

**Joselito dos Reis  - Poeta e jornalista 

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