O estilo polêmico passa longe. O corte de cabelo não é nada exótico.
Mas o porte físico avantajado rende comparações da torcida do Remo. Nos
jogos do Leão, Val Barreto vira Valotelli para os remistas. Contratado
pelo clube nesta temporada, o atacante, de 27 anos, virou xodó dos
torcedores. É mais ou menos assim: se a situação está ruim, chama o
grandalhão para resolver. Foram oito gols em 2013. A melhor chance do
ano para ele chega nesta quarta-feira. Val treinou na equipe principal
do técnico Flávio Araújo e vai enfrentar o Flamengo, nesta quarta-feira,
no Mangueirão, às 22h (de Brasília), pela primeira fase da Copa do
Brasil.
- Está sendo um mometo especial na minha carreira, nunca tinha passado
por isso. Comecei no banco, no primeiro jogo no Baenão (estádio do Remo)
depois de muito tempo, o time estava sob pressão, tinha de ganhar de
qualquer jeito. Aos 40 do segundo tempo, eu entrei, acabei acertando um
chute de fora da área, fiz um golaço
(assista no vídeo),
e a torcida começou a pedir em todos os jogos. No segundo jogo, também.
A torcida pediu, entrei, fiz gol. No terceiro jogo, comecei de titular e
fiz gol. No Re-Pa (Remo x Paysandu), fiz gol. Daí em diante sempre que
entrava sobrava a bola e fazia gol. A torcida criou esse carinho por
mim.
'Valotelli', ou melhor, Val Barreto imita o italiano Mario Balotelli, inspiração da torcida remista
(Foto: Editoria de Arte / Globoesporte.com)
Natural do Mato Grosso do Sul, Val Barreto foi formado na base do
Malucelli, no Paraná. Começou como meio-campista, mas depois de fazer
nove gols em um coletivo foi empurrado para o ataque. A partir daí,
passou a rodar. Esteve no interior de São Paulo, Recife, Espírito Santo,
Maranhão, outra vez Recife, até chegar ao Pará. No Remo, tem contrato
até junho e fará nesta quarta o principal jogo da carreira.
- Quero fazer um bom jogo, até pela visibilidade que estão dando. É
contra o Flamengo, um grande clube. Preciso me dedicar ao máximo, é onze
contra onze. O que muda entre os jogadores é a cabeça. Temos de ter
personalidade, pensar como jogador de time grande para chegar lá,
disputar a Libertadores e um Brasileiro por um clube desses. O Remo é
clube grande, tem torcida, mas está em situação difícil. Não tem nem
série. Precisa se classificar (para a Série D). Temos de tentar levar
esse jogo para o Rio, vai ser importante para a torcida.
Evangélico e pacato, Val diz que seu comportamento em nada lembra o de
Balotelli. Ele afirma que a origem da comparação com o atacante do Milan
e da seleção italiana é meramente física.
- É bacana. Mas eu sou tranquilo. Trabalho e vou para a igreja. Acaba o
jogo e vou para casa descansar, cinema. Só a semelhança física mesmo.
Acho bacana, a torcida fala, mas nosso treinador não gosta muito
(risos). Ele fala que em alguns jogos vou mal, pega no meu pé. Prefiro
deixar para a torcida. Prefiro ser o Val Barreto mesmo. Trabalhar para
fazer gols e trazer vitórias para o Remo.
É um jogo para se dedicar. O Brasil inteiro vai ver. Minha família vai
ver no Mato Grosso do Sul. Vai ter muita gente olhando. É a chance de
assinar um contrato melhor no Remo, até pegar o Flamengo, já que vamos
jogar contra."
Valotelli
O Valotelli do Remo está empolgado e espera brilhar mais que Hernane. O
Brocador anda em baixa no Rubro-Negro, apesar de ser o goleador do
Campeonato Carioca. Até aqui, fez nove gols no estadual.
- Ele tem feito o trabalho dele bem. Eu tenho feito o meu. Vai ser um
duelo grande dos atacantes. É um jogo para se dedicar. O Brasil inteiro
vai ver. Minha família vai ver no Mato Grosso do Sul. Vai ter muita
gente olhando. É a chance de assinar um contrato melhor no Remo, até
pegar o Flamengo, já que vamos jogar contra. É ter tranquilidade, fazer o
simples. Se der o melhor e fizer com simplicidade, as coisas acontecem.
Apesar de rejeitar as comparações com o polêmico Balotelli, Val
reconhece que em campo ele e o atacante famoso ficam mais parecidos.
- Todo mundo fala que quando entro em campo me transformo. Lá dentro
tem de estar com sangue quente e cabeça fria. Lá dentro você defende a
família, o trabalho, está sempre ligado. Não vai dar para falar baixinho
sempre. Às vezes, xinga um companheiro, o companheiro te xinga.
Val Barreto não esconde ansiedade para enfrentar o Flamengo (Foto: Richard Souza)
Com 1,83m e 90 kg, o atacante remista promete dar trabalho aos
defensores rubro-negros, que têm sido contestados pelas últimas
atuações. Na base do açaí e do trabalho, Val Barreto ganha força.
- Estou aprendendo a comer o açaí. É diferente aqui. Comia com cereal,
mel, açúcar. Aqui, comem com arroz, carne. Aquilo dá um sono, rapaz.
Antes do jogo não pode de jeito nenhum (risos). E enche, viu? O porte
físico ajuda bastante na hora de fazer a parede, de escorar para um
atacante que vem de trás. Tenho muita força, explosão. Sempre sou mais
rápido que o zagueiro. Não costumo desistir das jogadas. O zagueiro sai
na minha frente, mas eu chego antes dele. Tenho uma coisa de não
desistir, de dar o máximo.