quinta-feira, 12 de maio de 2016

No último discurso de Dilma no Planalto, Lula se mostra apático, ao lado dela

No último discurso de Dilma no Planalto, Lula se mostra apático, ao lado dela

O ex-presidente Lula acompanhou o discusro feito por Dilma do lado de fora do Planalto UESLEI MARCELINO / REUTERS
Lula nem entrou no Palácio do Planalto, ficou esperando por Dilma do lado de fora
Marina Dias e Paulo Gama
Folha
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva estava abatido. Quem esteve com ele às vésperas do afastamento de Dilma Rousseff da Presidência da República diz que nunca o viu tão chateado.
Nos últimos dias, Lula teve raiva, sentiu tristeza, brigou, chorou. Mas nesta quinta-feira (12) o ex-presidente parecia apático. Ao lado da sucessora e diante de uma plateia que gritava e chamava por seu nome, Lula não reagia. Durante o discurso de Dilma em frente ao Palácio do Planalto, poucas vezes bateu palmas, ficava com o olhar distante e, segundo aliados, parecia não estar ali. Durante sua chegada e saída, foram os momentos em o ex-presidente acenou ao público e cumprimentou alguns amigos e militantes petistas que o abordavam.

Pouco antes de entrar no carro e seguir para um almoço no Palácio da Alvorada junto com a sucessora, Lula despistou jornalistas numa frase que pareceu mais um desabafo: “Agora eu vou pra casa”.
Vestindo camisa social azul e blazer cinza, o ex-presidente fugiu do vermelho, cor do PT, que costumava adotar em atos simbólicos. Desta vez, foi conselho do próprio ex-presidente não fazer desta quinta-feira um dia com cara de “fim de governo” Dilma.
SEM DESCER A RAMPA
Lula aconselhou a sucessora a não descer a rampa do Palácio do Planalto, como ela pensava inicialmente em fazer. No lugar, disse, “saia pela porta da frente, no térreo, que estarei esperando você”.
Na terça-feira (10), quando chegou a Brasília, o ex-presidente jantou com Dilma no Palácio da Alvorada junto com o presidente do PT, Rui Falcão, Jaques Wagner (Gabinete Pessoal da Presidência) e Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo). Na quarta-feira (11), porém, quando o Senado votou o impeachment numa sessão de mais de vinte horas, Lula não quis acompanhar a votação pela TV ao lado de Dilma.
Assessores diziam que o resultado “era esperado” e que “não tinha motivo” de fazer daquilo “um evento”.
Naquele dia, Dilma se recolheu à área privada do Alvorada por volta das 22h. Dispensou assessores e alguns ministros que a acompanhavam para assistir à sessão. Queria descansar.

Dilma cai na armadilha de Lula e diz que vai lutar até o fim contra o “golpe”

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Cercada de ministros, Dilma Rousseff se despede do governo
Marina Dias e Gustavo Uribe
Folha
Após receber a intimação de seu afastamento do cargo, Dilma Rousseff fez nesta quinta-feira (12) um pronunciamento a jornalistas em que afirmou que pode ter cometido erros, mas não “crimes” e que, por isso, está sendo julgada “injustamente” em um processo que classifica como “golpe”.
“Posso ter cometido erros, mas não cometi crimes. Estou sendo julgada injustamente por ter feito tudo o que a lei me autorizava a fazer”, disse. “Jamais vou desistir de lutar”, completou Dilma no Salão Leste do Palácio do Planalto.
Em pouco menos de quinze minutos de discurso, a presidente agora afastada se emocionou quando lembrou do período em que foi torturada durante a ditadura militar no Brasil e disse que “não existe injustiça mais devastadora” do que “condenar um inocente”.
“Já sofri a dor invisível da tortura, a dor afetiva da doença, e agora sofro mais uma vez a dor igualmente inominável da injustiça”, afirmou Dilma. “Não existe maior brutalidade que pode ser cometida contra qualquer ser humano que puni-lo por um crime que não cometeu. Não existe injustiça mais devastadora do que condenar um inocente”, completou.
“NÓS VAMOS VENCER”
Acompanhada de ministros, governadores e parlamentares do PT e da base aliada, Dilma afirmou que vai “lutar até o fim” para tentar recuperar seu mandato e governar até “31 de dezembro de 2018”.
“O destino sempre me reservou muitos desafios, muitos e grande desafios, alguns pareceram a mim intransponíveis, mas eu consegui vencê-los […] Posso olhar para mim mesma e ver a face de alguém, que mesmo marcada pelo tempo, ainda tem força por lutar por seus crenças e direitos”, disse Dilma.
“A luta pela democracia não tem data para terminar, é permanente e exige de nós dedicação constante. A luta contra o golpe é longa, e pode ser vencida, e nós vamos vencer”, completou sob aplausos de uma claque de servidores e funcionários do Palácio do Planalto.
MOVIMENTOS SOCIAIS
A petista aproveitou para falar justamente com essa plateia e disse que um governo “sem legitimidade” como o de Michel Temer (PMDB) pode “agir com truculência” contra movimentos sociais.
“O maior risco para o país neste momento é ser dirigido por um governo que não foi eleito pelo voto direito e que não terá legitimidade para propor ou implementar soluções para o país. Ele pode ainda se ver tentado a reprimir movimentos populares, o que não foi feito na minha gestão”, disse. “A historia é feita de luta e sempre vale lutar pela democracia. A democracia é o lado certo da história, jamais vou desistir de lutar”, completou Dilma.
SABOTAGEM
Vestida de branco, Dilma disse ainda que a decisão do Senado em suspender seu mandato por até 180 dias trazia “riscos ao país”. A presidente agora afastada disse que o impeachment é “fraudulento” e que seu governo foi “alvo de intensa e incessante sabotagem”.
A petista repetiu o discurso de que foi eleita por 54 milhões de brasileiros e que a oposição, segundo ela, “inconformada com a derrota”, “passou a conspirar” contra seu mandato, impedindo a recuperação da economia para “tomar à força o que não conquistaram nas urnas”.
Logo depois de seu pronunciamento, Dilma deixou o Planalto pela porta da frente do prédio, no térreo, acompanhada por auxiliares e assessores.
DO LADO DE FORA
Após se juntar ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, falou a militantes do PT e de movimentos sociais que a aguardavam na Esplanada.
Em um discurso de outros quinze minutos, a petista disse que estava sendo afastada do cargo porque “nunca cedeu a chantagens” e repetiu que o governo Temer é “ilegítimo”.
“Hoje é um dia muito triste. A tristeza é porque vivemos uma hora trágica. A jovem democracia brasileira está sendo objeto de golpe”.
Ao lado da sucessora, Lula parecia apático. Aplaudiu poucas vezes e estava bastante abatido.
NO ALVORADA
Após o pronunciamento à imprensa e o discurso do lado de fora do Planalto, Dilma cumprimentou militantes e seguiu de carro ao Palácio da Alvorada, junto os ex-ministros Jaques Wagner (Gabinete Pessoal da Presidência) e José Eduardo Cardozo (Advocacia-Geral da União).
Nesta sexta-feira (13), Dilma deve seguir para Porto Alegre e passar o fim de semana com a família.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Como se sabe, Lula e os dirigentes petistas insistem em que Dilma tem de percorrer o país e viajar ao exterior para denunciar o “golpe”. Esta é a estratégica traçada para preservar o que ainda resta do PT.  Em sua ingenuidade, Dilma anuncia que vai seguir com a luta, como se tivesse condições de enfrentar uma maratona desse tipo. Mas ainda resta uma esperança. Como pretende passar o final de semana com os netos, em Porto Alegre, talvez a ficha caia e ela enfim perceba que os petistas a estão conduzindo como massa de manobra político-partidária. (C.N.)

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