No último discurso de Dilma no Planalto, Lula se mostra apático, ao lado dela
Marina Dias e Paulo Gama
Folha
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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva estava abatido. Quem esteve com ele às vésperas do afastamento de Dilma Rousseff da Presidência da República diz que nunca o viu tão chateado.
Nos últimos dias, Lula teve raiva, sentiu tristeza, brigou, chorou. Mas nesta quinta-feira (12) o ex-presidente parecia apático. Ao lado da sucessora e diante de uma plateia que gritava e chamava por seu nome, Lula não reagia. Durante o discurso de Dilma em frente ao Palácio do Planalto, poucas vezes bateu palmas, ficava com o olhar distante e, segundo aliados, parecia não estar ali. Durante sua chegada e saída, foram os momentos em o ex-presidente acenou ao público e cumprimentou alguns amigos e militantes petistas que o abordavam.
Pouco antes de entrar no carro e seguir para um almoço no Palácio da Alvorada junto com a sucessora, Lula despistou jornalistas numa frase que pareceu mais um desabafo: “Agora eu vou pra casa”.
Vestindo camisa social azul e blazer cinza, o ex-presidente fugiu do vermelho, cor do PT, que costumava adotar em atos simbólicos. Desta vez, foi conselho do próprio ex-presidente não fazer desta quinta-feira um dia com cara de “fim de governo” Dilma.
SEM DESCER A RAMPA
Lula aconselhou a sucessora a não descer a rampa do Palácio do Planalto, como ela pensava inicialmente em fazer. No lugar, disse, “saia pela porta da frente, no térreo, que estarei esperando você”.
Na terça-feira (10), quando chegou a Brasília, o ex-presidente jantou com Dilma no Palácio da Alvorada junto com o presidente do PT, Rui Falcão, Jaques Wagner (Gabinete Pessoal da Presidência) e Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo). Na quarta-feira (11), porém, quando o Senado votou o impeachment numa sessão de mais de vinte horas, Lula não quis acompanhar a votação pela TV ao lado de Dilma.
Assessores diziam que o resultado “era esperado” e que “não tinha motivo” de fazer daquilo “um evento”.
Naquele dia, Dilma se recolheu à área privada do Alvorada por volta das 22h. Dispensou assessores e alguns ministros que a acompanhavam para assistir à sessão. Queria descansar.
Dilma cai na armadilha de Lula e diz que vai lutar até o fim contra o “golpe”
Marina Dias e Gustavo Uribe
Folha
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Após receber a intimação de seu afastamento do cargo, Dilma Rousseff fez nesta quinta-feira (12) um pronunciamento a jornalistas em que afirmou que pode ter cometido erros, mas não “crimes” e que, por isso, está sendo julgada “injustamente” em um processo que classifica como “golpe”.
“Posso ter cometido erros, mas não cometi crimes. Estou sendo julgada injustamente por ter feito tudo o que a lei me autorizava a fazer”, disse. “Jamais vou desistir de lutar”, completou Dilma no Salão Leste do Palácio do Planalto.
Em pouco menos de quinze minutos de discurso, a presidente agora afastada se emocionou quando lembrou do período em que foi torturada durante a ditadura militar no Brasil e disse que “não existe injustiça mais devastadora” do que “condenar um inocente”.
“Já sofri a dor invisível da tortura, a dor afetiva da doença, e agora sofro mais uma vez a dor igualmente inominável da injustiça”, afirmou Dilma. “Não existe maior brutalidade que pode ser cometida contra qualquer ser humano que puni-lo por um crime que não cometeu. Não existe injustiça mais devastadora do que condenar um inocente”, completou.
“NÓS VAMOS VENCER”
Acompanhada de ministros, governadores e parlamentares do PT e da base aliada, Dilma afirmou que vai “lutar até o fim” para tentar recuperar seu mandato e governar até “31 de dezembro de 2018”.
“O destino sempre me reservou muitos desafios, muitos e grande desafios, alguns pareceram a mim intransponíveis, mas eu consegui vencê-los […] Posso olhar para mim mesma e ver a face de alguém, que mesmo marcada pelo tempo, ainda tem força por lutar por seus crenças e direitos”, disse Dilma.
“A luta pela democracia não tem data para terminar, é permanente e exige de nós dedicação constante. A luta contra o golpe é longa, e pode ser vencida, e nós vamos vencer”, completou sob aplausos de uma claque de servidores e funcionários do Palácio do Planalto.
MOVIMENTOS SOCIAIS
A petista aproveitou para falar justamente com essa plateia e disse que um governo “sem legitimidade” como o de Michel Temer (PMDB) pode “agir com truculência” contra movimentos sociais.
“O maior risco para o país neste momento é ser dirigido por um governo que não foi eleito pelo voto direito e que não terá legitimidade para propor ou implementar soluções para o país. Ele pode ainda se ver tentado a reprimir movimentos populares, o que não foi feito na minha gestão”, disse. “A historia é feita de luta e sempre vale lutar pela democracia. A democracia é o lado certo da história, jamais vou desistir de lutar”, completou Dilma.
SABOTAGEM
Vestida de branco, Dilma disse ainda que a decisão do Senado em suspender seu mandato por até 180 dias trazia “riscos ao país”. A presidente agora afastada disse que o impeachment é “fraudulento” e que seu governo foi “alvo de intensa e incessante sabotagem”.
A petista repetiu o discurso de que foi eleita por 54 milhões de brasileiros e que a oposição, segundo ela, “inconformada com a derrota”, “passou a conspirar” contra seu mandato, impedindo a recuperação da economia para “tomar à força o que não conquistaram nas urnas”.
Logo depois de seu pronunciamento, Dilma deixou o Planalto pela porta da frente do prédio, no térreo, acompanhada por auxiliares e assessores.
DO LADO DE FORA
Após se juntar ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, falou a militantes do PT e de movimentos sociais que a aguardavam na Esplanada.
Em um discurso de outros quinze minutos, a petista disse que estava sendo afastada do cargo porque “nunca cedeu a chantagens” e repetiu que o governo Temer é “ilegítimo”.
“Hoje é um dia muito triste. A tristeza é porque vivemos uma hora trágica. A jovem democracia brasileira está sendo objeto de golpe”.
Ao lado da sucessora, Lula parecia apático. Aplaudiu poucas vezes e estava bastante abatido.
NO ALVORADA
Após o pronunciamento à imprensa e o discurso do lado de fora do Planalto, Dilma cumprimentou militantes e seguiu de carro ao Palácio da Alvorada, junto os ex-ministros Jaques Wagner (Gabinete Pessoal da Presidência) e José Eduardo Cardozo (Advocacia-Geral da União).
Nesta sexta-feira (13), Dilma deve seguir para Porto Alegre e passar o fim de semana com a família.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Como se sabe, Lula e os dirigentes petistas insistem em que Dilma tem de percorrer o país e viajar ao exterior para denunciar o “golpe”. Esta é a estratégica traçada para preservar o que ainda resta do PT. Em sua ingenuidade, Dilma anuncia que vai seguir com a luta, como se tivesse condições de enfrentar uma maratona desse tipo. Mas ainda resta uma esperança. Como pretende passar o final de semana com os netos, em Porto Alegre, talvez a ficha caia e ela enfim perceba que os petistas a estão conduzindo como massa de manobra político-partidária. (C.N.)
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Como se sabe, Lula e os dirigentes petistas insistem em que Dilma tem de percorrer o país e viajar ao exterior para denunciar o “golpe”. Esta é a estratégica traçada para preservar o que ainda resta do PT. Em sua ingenuidade, Dilma anuncia que vai seguir com a luta, como se tivesse condições de enfrentar uma maratona desse tipo. Mas ainda resta uma esperança. Como pretende passar o final de semana com os netos, em Porto Alegre, talvez a ficha caia e ela enfim perceba que os petistas a estão conduzindo como massa de manobra político-partidária. (C.N.)
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