Júlio César |
STAR WARS: REVISITADO, 40 ANOS DEPOIS
Lembro-me
de quando, em 1977, fui assistir em um cinema no bairro da Tijuca, no Rio de
Janeiro, o filme Star Wars. Na
ocasião, tinha apenas 12 anos e me encontrava acompanhado de minha sempre tão
crítica quanto hoje saudosa mãe.
Como
era previsível para alguém naquela idade, adorei o filme; e minha querida mãe o
odiou profundamente, dando graças aos céus quando terminou aquilo que ela
qualificou, à época, como sendo algo, do ponto de vista cinematográfico, o mais
pobre e clichê possível.
Passaram-se
os anos, célere e intensamente. Me desinteressei pela saga estelar, atado aos
problemas imediatos de sobrevivência pessoal em nosso inóspito planeta.
Amadureci, por certo, menos do que envelheci; porque as mulheres, em regra,
amadurecem mesmo sem envelhecer; e os homens envelhecem, mas teimam em não
amadurecer.
Tive,
há poucos dias, a possibilidade de assistir ao sétimo filme da série Star Wars, eu com 50 anos, acompanhado
de minha filha Júlia, que tem 13 anos. Ela, como era previsível, adorou o
filme. E eu vi que o que me parecia ruim era de fato muito pior.
Lembrava-me
ainda do primeiro filme da série, que parecia um filme medieval de
capa-e-espada, com duelos entre mocinhos e vilões, ambientados na tecnologia
espacial. Talvez por isso mesmo o filme, à época, me agradara tanto.
Mas
aos 50 anos, quando compreendemos o quanto é frágil a divisão maniqueísta entre
“mocinhos e bandidos” e o quanto são distantes da realidade as “mocinhas”
carentes de um herói que as proteja, só me restou uma visão, por assim dizer,
sociológica dos valores que o filme implícita ou explicitamente exalta e
apresenta como modelo de conduta.
Confesso:
Fiquei verdadeiramente assustado com o militarismo e a belicosidade que presidem
cem por cento do filme! Mesmo para mim, que fui e gostei de ser militar, passa
de todos os limites o militarismo ali expresso.
Não
há em todo o ambiente estelar, nem nos diferentes mundos e galáxias de Star Wars, nada de belo, de bom nem de
sublime capaz de despertar a ação humana, exceto a guerra. Só esta se afirma,
onipresente, em todos os gêneros: Em lutas com espadas de neon reluzente e
poder avassalador; com homens municiados de revólveres e carabinas como nos
velhos westerns (bangue-bangue), só
que em versões supermodernas; em combates de aeronaves espaciais que fazem as
lutas entre aviões caças da Segunda Guerra Mundial parecerem pálidos passeios
e, sobretudo, na destruição total de planetas inteiros mediante o uso de
poderosíssimas armas, pressupondo bilhões de mortes instantâneas, que fariam
Hiroshima e Nagasaki serem um incidente sem nenhuma importância histórica ou
humana.
O
belicismo, presente nos diálogos, nas roupas, nas atitudes e nas relações entre
os seres chega a sobrepor-se àquele presente nos combates propriamente ditos,
onde o sangue e o despedaçamento dos corpos nem sempre aparecem, mas onde a
morte violenta reina absoluta.
Por
fim, uma das características mais positivas que Star Wars apresentou, desde o primeiro filme, que é a convivência,
senão pacífica, ao menos surpreendentemente cordial e igualitária e entre seres
de diferentes galáxias, cai por terra neste último filme da série ante um mal
disfarçado racismo entre os próprios humanos.
Explico:
Os dois principais protagonistas, os “mocinhos”, são uma jovem e bela catadora
de lixo espacial e um jovem negro, que deserta das tropas das “trevas” e acaba
por aderir aos “mocinhos”. Como ambos são jovens, descomprometidos e belos,
nada mais natural do que supor que rolaria ao menos um “clima” entre ambos. Mas
nada disso ocorre!
Se
o jovem negro chega a se mostrar mais atencioso para com a moça, esta parece
assexuada, sendo mais doce e terna com os robôs do que com o pobre rapaz, que
sem uma carícia, sem um beijo, sem um olhar mais ameno sequer, morre no final
para esmagar definitivamente quaisquer esperanças de relacionamento entre uma
branca e um negro!
Definitivamente,
Star Wars visitou inúmeras galáxias,
mas jamais esteve no Brasil, onde podemos até ser racistas, mas não perdemos a
oportunidade de estabelecer um bom relacionamento por conta da cor.
Autor: Julio Cezar de Oliveira Gomes. e-mail: juliogomesartigos@gmail.com
Permitida
a reprodução total ou parcial, desde que citada a autoria.
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