Antonio
Nunes de Souza*
Depois
de passar quatro horas em transportes coletivos e mais oito horas trabalhando
num balcão de atendimento de uma grande, mas como todas, bastante ineficaz
empresa de planos de saúde, tendo que repetir uma série de desculpas,
pertinentes ou não, ouvir reclamações, desaforos, piadinhas e deboches, chego
em casa completamente cansada e verdadeiramente “emputecida” por não ter
terminado meu curso superior, para que pudesse abandonar essa vida de merda que
estava vivendo!
E,
para voltar a faculdade, além das mensalidades fora do meu alcance, não tinha
tempo nem para me coçar quanto mais, depois de uma trajetória dessa, ainda ter
peito para enfrentar aulas noturnas. Cansada, suada, com fome, assistir as
explicações morrendo de sono, com a preocupação de voltar para casa as 23
horas, enfrentando os comuns perigos de S. Paulo. Pensei em fazer EAD (a
distância), somente nos fins de semana, mas, infelizmente eram os dias que
tinha para arrumar a casa, lavar roupas e
fazer as comidas da semana para
serem congeladas, pois, minha única refeição decente era quando chegava à
noite. Meu almoço habitual era um pastel ou esfirra com refresco e tinha que
segurar o dia todo com sorriso nos lábios. Uma vida que, sem exagerar nada,
totalmente de FDP!
Infelizmente,
essa é a vida de milhões de brasileiros e em centenas de outros países,
enfrentando todos os tipos de situações e ainda dar graças a Deus por estarem
vivas e poderem se divertir, eventualmente, nos carnavais, forrós, funks,
arrochas, pagodes e churrascos nas lajes dos subúrbios, hoje acrescidos dos
“programados panelaços” para tomar os poderes na marra, mudando as moscas e
conservando a mesma merda!
Sinceramente,
mesmo com trinta anos, uma mulher relativamente bonita, tem mais de cinco anos
que não sei o que seja sexo, desde quando terminei o meu último namoro que
durou alguns meses. Também, ao colocar o pé na rua, fechava a cara de tal
forma, que não animava ninguém para encostar ou puxar conversa. Até que um dia,
na volta, quando entrei no metrô abarrotado de gente como sempre, me aconcheguei
bem ao lado e, como era impossível evitar, um rapaz interessante encostou-se em
mim e com o balanço da locomotiva, começamos a nos esfregar, eu cheia de
carências e ele de desejos, nos unimos de tal forma que, molhadíssima e
excitada, sentia seu protuberante sexo massageando gostosamente minha vagina.
Juro que gozamos e sentimos prazer ao mesmo tempo, pois, sem ligar para nada,
nos abraçamos e nos beijamos sem que jamais tivéssemos nos vistos ou conhecido.
Ao separar nossas bocas, demos apenas um sorriso sem graça um para o outro. E
voltamos a ter a postura normal e habitual de passageiros da agonia.
Não
minto não, nessa noite, cheguei em casa assoviando, feliz da vida e, não sei se
é uma heresia, mas agradeci a Deus a dádiva daquele gostoso orgasmo inesperado
e delicioso, para quem, sofredoramente, vivia na base da genérica masturbação.
Reconheci que, nós “passageiras da agonia”, um dia temos nossas gratificações
inesquecíveis!
Nunca
mais vi aquele homem, porém tenho gravada em minha mente a sua imagem e, como
posso negar se é uma verdade, sua lembrança me dá gostosas inspirações para
minhas manipulações solitárias!
*Escritor
– Membro da Academia Grapiúna de Letras – AGRAL – antoniodaagral26@hotmail.com
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