terça-feira, 8 de setembro de 2015

" SETE DE SETEMBRO DE 2015 EM ILHÉUS" ARTIGO DE JÚLIO CÉSAR

*Júlio César
 Quando se mora em uma cidade há muitos anos é possível estabelecer comparações, testemunhar a evolução das coisas, chegar a conclusões que seriam impossíveis de serem percebidas por quem chegasse naquele local pela primeira vez.

Talvez por isso mesmo o Sete de Setembro em Ilhéus seja tão importante para mim. Após 30 anos morando e vivenciando esta cidade, não há como não comparar o evento cívico atual com aqueloutros que assisti há décadas atrás. Há fatos que de modo algum poderão passar despercebidos!

O primeiro deles é o quanto diminuiu, ao longo dos anos, o público que se dirigia para ver o desfile cívico. É talvez três vezes menor o número de assistentes hoje. Como posso afirmar com certeza? Em meus tempos de militante, nos anos 80 e 90, cansávamos de distribuir nos acessos à manifestação dez, quinze, até vinte mil panfletos, que se esgotavam até o último. Hoje cinco mil bastariam com sobra!

Notória também é a ausência das escolas particulares do desfile. Este ano só uma compareceu. Parece que a classe dominante, que coloca seus filhos no ensino privado, só lembra que é brasileira na hora de se manifestar contra Dilma ou nos dias de jogo de um time futebol que todos chamam de seleção, menos eu.
Mudou também a atitude do povo em relação aos seus governantes. Se há 30 anos eram vistos como semideuses, de 15 ou 20 anos para cá os prefeitos são sempre saudados pelo povo com calorosas vaias. Eles merecem, foram eles, através de seus próprios atos, que se puseram na situação em que se encontram.
Por último, para coroar as desventuras de Ilhéus – esta terra do já foi, do já teve, do já existiu – neste anos de 2015, após quase 20 anos de Grito dos Excluídos nos desfiles Ilheenses, sabem o que aconteceu? Nada! Simplesmente não houve o Grito neste ano, frustrando visivelmente as centenas de pessoas que tradicionalmente esperam esta manifestação que fechava o desfile, trazendo as bandeira de luta e reivindicações populares, denunciando abusos, questionando as autoridades, pedindo providências urgentes. O prefeito e demais poderosos devem ter adorado, é obvio!

Para mim, curioso observador da evolução social de nossa cidade e sociedade, a imagem que ficará eternamente gravada, relacionada a este Sete de Setembro de 2015, será a de um militante solitário, maltrapilho e com ar de alienado, pintado de negro, que ao fim do desfile passou puxando um cartaz de papelão, sujo e mal feito, que ele mesmo arrastava pelo chão. Patético.
Ilhéus, assim como aquele militante perdido, não consegue encontrar um caminho.

Julio Cezar de Oliveira Gomes é graduado em História e em Direito pela UESC – Universidade Estadual de Santa Cruz. e-mail: juliogomesartigos@gmail.com


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