*Júlio César |
Talvez
por isso mesmo o Sete de Setembro em Ilhéus seja tão importante para mim. Após
30 anos morando e vivenciando esta cidade, não há como não comparar o evento
cívico atual com aqueloutros que assisti há décadas atrás. Há fatos que de modo
algum poderão passar despercebidos!
O
primeiro deles é o quanto diminuiu, ao longo dos anos, o público que se dirigia
para ver o desfile cívico. É talvez três vezes menor o número de assistentes
hoje. Como posso afirmar com certeza? Em meus tempos de militante, nos anos 80
e 90, cansávamos de distribuir nos acessos à manifestação dez, quinze, até
vinte mil panfletos, que se esgotavam até o último. Hoje cinco mil bastariam
com sobra!
Notória
também é a ausência das escolas particulares do desfile. Este ano só uma
compareceu. Parece que a classe dominante, que coloca seus filhos no ensino
privado, só lembra que é brasileira na hora de se manifestar contra Dilma ou
nos dias de jogo de um time futebol que todos chamam de seleção, menos eu.
Mudou
também a atitude do povo em relação aos seus governantes. Se há 30 anos eram
vistos como semideuses, de 15 ou 20 anos para cá os prefeitos são sempre
saudados pelo povo com calorosas vaias. Eles merecem, foram eles, através de
seus próprios atos, que se puseram na situação em que se encontram.
Por
último, para coroar as desventuras de Ilhéus – esta terra do já foi, do já
teve, do já existiu – neste anos de 2015, após quase 20 anos de Grito dos
Excluídos nos desfiles Ilheenses, sabem o que aconteceu? Nada! Simplesmente não
houve o Grito neste ano, frustrando visivelmente as centenas de pessoas que tradicionalmente
esperam esta manifestação que fechava o desfile, trazendo as bandeira de luta e
reivindicações populares, denunciando abusos, questionando as autoridades,
pedindo providências urgentes. O prefeito e demais poderosos devem ter adorado,
é obvio!
Para
mim, curioso observador da evolução social de nossa cidade e sociedade, a
imagem que ficará eternamente gravada, relacionada a este Sete de Setembro de
2015, será a de um militante solitário, maltrapilho e com ar de alienado, pintado
de negro, que ao fim do desfile passou puxando um cartaz de papelão, sujo e mal
feito, que ele mesmo arrastava pelo chão. Patético.
Ilhéus,
assim como aquele militante perdido, não consegue encontrar um caminho.
Julio Cezar de Oliveira Gomes é graduado em História e em Direito pela UESC – Universidade Estadual de
Santa Cruz. e-mail: juliogomesartigos@gmail.com
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