Antonio
Nunes de Souza*
A cidade movimentadíssima, à
frente do fórum haviam dezenas de ambulantes vendendo todos os tipos de
iguarias e bebidas, atendendo as sedentas fomes dos curiosos que, aglomerados,
esperavam o veredicto do crime da socialite mais bonita, charmosa, rica e
safadinha da cidade!
Adriana tinha 33 anos de
idade, três filhos, todos com características diferentes e, mesmo depois desses
partos e amamentações, nada deixou de sequelas normais, geralmente acontecidas
depois da maternidade. Continuava linda, tesuda, corpo provocante e aquele
sorriso capaz de derrubar qualquer homem, por mais sério que fosse. Podemos
dizer, sem estar exagerando, que a mulher era a imagem da tentação!
Seu marido, Augusto,
conhecido na cidade pelo apelido carinhoso de Guto, pois, embora não sendo um
homem letrado, é de uma generosidade fantástica, solidário em todas as
ocasiões, além de ser caridoso e benevolente em todas suas atitudes. Muito
trabalhador, chegando a ser um dos homens mais próspero do município, sendo
dono do melhor super mercado da região! Enquanto ele vivia estritamente para o
trabalho, sua mulher, preocupava-se apenas em ser uma dondoca, como uma mobília
cativa nas colunas sociais.
Duas pessoas diferentes em
comportamentos, porém formavam um bonito casal e ele não deixava que nada não
fosse feito para atender seus caros e tolos desejos. Carros novos e de luxo,
roupas das mais caras e somente com grifes famosas, viagem pela Europa e
Estados Unidos e, eventualmente, umas esticadas pelo Japão. Guto, pela sua
natureza simples e humilde, raríssimamente participou dessas caras tournées
turísticas! Dedicava-se muito ao trabalho para poder manter esse padrão que sua
bela mulher gostava de desfrutar!
E esse julgamento era do
crime que abalou a cidade e toda sociedade, quando há alguns meses, Guto, num
momento de desespero, frustração e ódio, deu seis tiros em Adriana, matando-a
sem que houvesse tempo para assistência médica! E isso aconteceu no meio de uma
festa, em sua casa, quando comemoravam dez ano de casados!
O juiz bateu o martelo na
mesa, pediu silêncio e, como Guto havia pedido, ele mesmo faria a sua defesa, o
meritíssimo autorizou que ele começasse:
Senhor Juiz, desculpe o meu
linguajar pobre, mas, com certeza, serei bastante claro e sintetizarei o caso,
relatando apenas a razão da minha intempestiva revolta e atitude criminosa:
Estávamos todos reunidos na grande pérgola do jardim, centenas de convidados e,
exatamente no momento de apagar as velas do bolo festivo, Adriana já meio bêbada,
pegou o microfone e, sem a menor cerimônia, começou a dizer, o que quero que os
senhores ouçam com atenção, pois tem uma centena de testemunhas do absurdo que
ocorreu: Queridos convidados, tenho que fazer uma confissão para meu marido,
pois, embora eu não o ame, ele, docemente, me proporciona uma vida maravilhosa,
porém eu não tenho sido legal com ele, uma vez que, esses meus três filhos,
nenhum é dele. O mais velho, moreno escuro, com características finas e cabelos
lisos e negros é filho de um indiano que conheci e passei uma semana hospedada
em sua casa. A menina, lourinha de olhos azuis, é uma lembrança que trouxe de
Nova Yorque, graças a um entregador de Pizza que, diariamente eu chamava para
comer a pizza e eu era a sobremesa. E o caçulinha é bem brasileiro, pois foi
feito no Rio em uma das minhas deliciosas viagens.
Rolou o maior espanto de
todos, achando até que era uma graça, mas, quando quiseram tomar o microfone
das suas mãos, ela fez o maior escândalo e confirmou tudo, acrescentando que
estava fazendo esse depoimento/testemunho em nome de Jesus, pois havia entrado
para ser evangélica e, a partir daquela data, nunca mais trairia seu querido
marido! Todos morriam de rir, olhando para Guto e espantados em ver e ouvir
algo tão inusitado!
Senhor Juiz, o sangue me veio
à cabeça, fiquei enlouquecido e não me restou, senão ir até o quarto, apanhar a
arma e descarregar naquela desgraçada. Não em nome de Jesus, mas, em nome do
Diabo!
O Juiz, mesmo já tendo lido
todo processo, estava estarrecido pela coragem de Guto em confessar tudo
perante aquela multidão que, pensou alto e falou no microfone que estava
aberto: “Que mulher filha da Puta! Temos que absorver esse pobre homem!”! Todos
caíram nas risadas, foi quando ele percebeu o vacilo que tinha dado, mas, aí já
era tarde para consertar!” Bateu o martelo na mesa, deu um intervalo para os
jurados se reunirem e apresentassem o veredicto, retirando-se para sua sala.
Minutos depois, volta o Juiz
e os jurados, e aí ele levanta-se e lê a sentença: O Sr Augusto dos Santos está
absorvido com sete votos a zero, podendo, imediatamente ser libertado. O povo
bateu palmas e, carregando Guto nos ombros, atravessaram a rua e, atrás de uma
coluna do fórum, se escondia o sacana do pastor que havia aconselhado Adriana a
fazer tão absurda confissão!
*Escritor – Membro da
Academia Grapiúna de Letras – AGRAL antoniodaagral26@hotmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Seja responsável