Há
quem acredite que em mesa de bar nada há que possa prestar. Em parte é verdade.
Mas em parte é um grande equívoco.
Em
animada palestra regada a cerveja para a maioria e a refrigerante e suco para
alguns poucos, em Ilhéus, numa mesa situada na Barrakítica (olha o marketing!!!
rsrsrsrs), conversávamos - ou discutíamos - entre outras coisas sobre a
presença da divindade nas sociedades humanas, quando uma jovem questionou o
fato de Deus estar sempre identificado com o gênero masculino, o que reforça a
concepção ideológica machista historicamente dominante em quase todas as
sociedades e épocas.
A
pergunta, feita com a criticidade e audácia típica das jovens que frequentam os
movimentos que questionam o “status quo”
dominante, tais como são os que lutam pelos direitos das mulheres, além de ser
inteligente, possibilita uma reflexão extremamente oportuna.
De
fato, por uma questão de lógica, o Deus supremo, em uma concepção monoteísta; e
os deuses ligados à criação, do ponto de vista politeísta, deveriam sim ser
todos do gênero feminino. Assim, se antecedido de artigo definido deveria ser
este do gênero feminino, ou seja: A Deus, e não O Deus. É bem
simples entender o porquê disso. Veja:
Se
alguém concebe e cria em si mesmo a vida entre os humanos não são os homens, e
sim as mulheres. Nelas se dá a fecundação. Dentro delas se desenvolve o óvulo,
que se transformará em embrião e em feto, e são elas que darão à luz o novo
ser. Pode doer no orgulho masculino, mas falando do ponto de vista estritamente
biológico, só somos fundamentais para fornecer os espermatozoides. E só,
fisicamente falando.
Se
são as mulheres as geradoras, as mães da vida, Deus e os deuses associados à
criação deveriam mesmo ser todos do gênero feminino – ou então de gênero
nenhum, se entendermos que Deus não tem sexo. É de fato no mínimo impróprio,
ilógico mesmo, associá-lo ao masculino.
Deveria,
sim, ser A Deus (ou A Deusa) Mãe Toda Poderosa, criadora da vida, do céu
e da terra, e de tudo o que nela existe. Mas isso se chocaria frontalmente com
o machismo predominante em todas as sociedades, e ainda nos dias de hoje.
Seria
simplesmente inaceitável, impossível de ser assim em uma sociedade como a dos
Hebreus (ou judeus), há dois mil anos atrás, quando Jesus veio ao mundo, sendo
que naquela sociedade as mulheres quase nada valiam, quase nada eram, e
simbolizavam a fraqueza, a dependência e a submissão quase total, além de
ser-lhes imputadas todas as culpas, inclusive aquelas que cabiam aos homens,
como ocorre na narrativa acerca de Adão, Eva e do fruto proibido, em que a
culpa recai toda sobre Eva, como se Adão não tivesse a plena liberdade de ter
dito: não!
Em
sociedades nas quais a mulher adultera era sumariamente assassinada por meio de
apedrejamento público; em que os pais davam as filhas em casamento a quem bem
entendessem; em que as mulheres eram seres de última categoria porque não tinham
a mesma força física do homem para a guerra e para os pesados serviços daquela
época; em que o homem tinha a mulher como mais um dos objetos de sua posse,
podendo dela se desfazer quando bem lhe aprouvesse, jamais a divindade seria
identificada com o gênero feminino, por ser tal fato uma grave ameaça ao poder
total exercido pelos homens.
Penso,
particularmente, que Deus não tem sexo. Se tivesse, se casaria e – permitam-me
a brincadeira, mesmo em um tema tão sério - a vida dele viraria um inferno,
sendo, ainda, comandado pela mulher!
Concordo,
pois, com a jovem questionadora e audaz: Se tivéssemos de atribuir um gênero à
divindade, deveria ser o feminino, e não o masculino.
Julio Cezar de Oliveira Gomes é graduado em História e em Direito pela UESC – Universidade Estadual de
Santa Cruz. e-mail: juliogomesartigos@gmail.com
Permitida
a reprodução total ou parcial, desde que citada a autoria.
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