quinta-feira, 25 de junho de 2015

A carta de Caminha, 515 anos depois! DE ANTONIO NUNES



A carta de Caminha, 515 anos depois! 
Antonio Nunes de Souza*
Caro Coroa, 
Claro que não viajei por mar. Aqui chega-se bem de buzu, queixando carona ou caranga própria. Optei pela última por gostar de conforto (que não sou de ferro), já que estou sendo bancado pelo Além Mar e não tem ninguém aqui para controlar as despesas! 
Fui tomado de impacto ao adentrar, após 515 anos do descobrimento, nesta cidade de Porto Seguro. Cheguei pela parte histórica, onde o velho Cabral construiu algumas obras até hoje conservadas ou recuperadas. Daqui de cima já comecei a imaginar a delicia que me espera, pela beleza do mar que desbundou em minha frente! 

O ar é puro e saudável, emanado pelo que resta da Mata Atlântica. Preparei logo minhas narinas, porque aqui eu sei que vou cheirar à vontade. Haja pulmão e cabeça para resistir à tentação. 
      Ao descer a ladeira, indo de encontro à cidade propriamente dita, o movimento de carros de todos os lugares do mundo fez-me parecer que errara de caminho e estava no trânsito confuso de Sampa. Dezenas de homens, meninos e mulheres correm atrás dos carros para oferecer panfletos indicativos de pousadas, cabanas e casas noturnas, onde se pode descansar e cansar respectivamente! 
Gatas e gatos (como são apelidados aqui as raparigas e os gajos), desfilam em roupas ínfimas, partindo nas mais diversas direções em busca dos prazeres que essa cidade pode oferecer.
Até agora não vi um índio, nem para remédio. Creio que os Pataxós estão mais espertos, para que os brancos não descubram o caminho "mais íntimo" das índias. 
Estou passando neste momento na artéria principal, denominada Passarela do Álcool. Pelo nome, Reizaço, tu podes imaginar que é aqui que o couro come e a mãe não vê. Neste bendito trecho encontram-se os mais diversos tipos de pessoas, caminhando como formigas, buscando coisas e prazeres. 
Queimam-se todas as tristezas e as fumaças perdem-se nas cabeças, fazendo a alegria estourar em todos os ambientes, provocando a euforia geral dos grupos que, gentilmente, são denominados de Galeras! 
Música ao vivo brada nos bares e cabanas, destacando-se um ritmo alucinante e sensual chamado lambada que, pelo remelexo e esfregação ao dançar, pode levar ao orgasmo num abrir e fechar d'olhos, mesmo que você não sofra de ejaculação precoce. 
E é aí que mora o perigo! Depois da mistura do álcool, um tapinha no fumo, muito “brilho” da noite, lambadas e lambidas, todos chegam ao pico da animação, desejando logo um local, adequado ou não, para a prática do sexo nas mais variadas maneiras e posições. 
Normalmente, esquecendo-se das precauções devidas com relação às doenças transmissíveis. 
Pô Majesta, pude perceber que ainda existem babacas que não usam a camisinha. E, na hora de afogar o ganso, não protegem o pinto! As raparigas, inibidas, também têm vergonha de exigir tal procedimento. 
Esse vacilo, lamentavelmente, é quase generalizado: homens, mulheres, brasileiros e estrangeiros. Eu não diria que é uma promiscuidade. Mas não deixa de ser pois (com o perdão da palavra) uma puta ignorância, meu Rei! 
Aqui, como em todo universo, já descobriram que o sexo é maravilhoso. Contudo, esqueceram que também é perigoso em razão das doenças venéreas e a fatídica Aids. 
Meu conselho para todos será: na hora da tempestade do amor, calmaria, meus caros gajos. Calmaria e camisinha não fazem mal a ninguém! 
Finalmente, meu Rei, termino dizendo: aqui a terra continua linda e maravilhosa. Seu povo é bonito, hospitaleiro e meigo. E, se educando, todos vão usar! (Camisinha, claro).

Ass. Pero Vaz de Caminha, ou...

Antonio Nunes de Souza* - Membro da Academia Grapiúna de Letras – antoniodaagral26@hotmail.com.

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