segunda-feira, 6 de abril de 2015

ARTIGO: PONCIO PILATOS E A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS: UMA NOVA VISÃO

Júlio César

Para os cristãos, o romano Poncio Pilatos, governador civil e comandante das tropas romanas estacionadas na Judeia ao tempo da crucificação de Jesus é, sem dúvida, o grande algoz do Mestre Salvador, pois foi aquele que decretou-lhe a morte e executou a sentença.


A visão acima não está incorreta, já que a História a confirma. Entretanto, se prestarmos mais atenção aos acontecimentos que antecederam à execução de Jesus, poderemos perceber de forma muito mais rica e humana a atuação de Pilatos neste episódio. Vejamos.

Após ser traído por Judas, Jesus foi preso e conduzido, à presença do principais sacerdotes judeus e, em seguida ao Governador da Judeia, ou seja, a Poncio Pilatos. Este, no entanto, não tendo encontrado nenhum motivo para submetê-lo às duríssimas penas do Direito daquela época, o remeteu de volta aos príncipes Judeus, na pessoa de Herodes (Lucas, 23:07), de forma a tirar a si próprio e ao Governo Romano daquilo que entendia ser uma disputa entre Judeus relacionada às suas questões religiosas e políticas, já que os judeus não separavam política de religião. Assim, Pilatos tentou abster-se de condenar alguém que tinha por inocente, pois se assim não fosse teria sentenciado Jesus naquela primeira ocasião (Lucas, 23:04).

Ao retornar para as autoridades judaicas, Jesus é levado à presença de Herodes, por quem é interrogado e onde é novamente espancado, saindo de lá para ser levado de volta a Pilatos, sob acusação de dizer-se rei dos Judeus e, portanto, um perigo fatal para a ordem e a dominação exercida pelo Império Romano.
Diz-nos a bíblia, no entanto, que a esposa de Pilatos tivera um sonho com Jesus e, a partir de tal fato, suplicou com toda a veemência para que seu marido nada de mal fizesse àquele Jesus (Mateus, 27:19).
Pode-se depreender seguramente, sobretudo a partir de quando Pilatos recebe Jesus pela segunda vez, que o governador romano, de fato, tudo fez para tentar impedir a condenação e execução de Jesus. Preste atenção:

Sem opção ante o pedido de execução feito pelos mais importantes líderes judeus, Pilatos tenta uma manobra política para tentar obter a não aplicação da pena de morte imputada a Jesus, colocando-o com apenas mais um outro acusado para que um deles pudesse ser beneficiado com o perdão e a soltura, em virtude de antigo costume existente de, na Páscoa, indultar um acusado condenado à morte.

Para suprema decepção de Pilatos, o povo daquela época, incitado pelos fariseus, doutores da lei e sacerdotes, prefere Barrabás a Jesus, pedindo o perdão da pena de morte em favor tão-somente de Barrabás (Lucas, 23:20-21).

Completamente desesperado, Poncio Pilatos pergunta – por nada menos de três vezes seguidas (Lucas, 23:22) – o que fazer com Jesus, ao que o povo responde aos gritos: Crucifica-o! (Mateus, 27:22-23; Marcos 15:14)
Pilatos sabia que os judeus, em virtude de suas convicções religiosas, entendiam ser a dominação romana uma afronta ao seu Deus e à sua religião, e que por isso estavam sempre pronto a sublevar-se, assentando-se a dominação romana, nesta situação, unicamente na eficácia da ação militar de seu disciplinado Exército.
Entretanto, Pilatos dispunha somente de uma tropa com algumas centenas de soldados, que dificilmente conteriam um levante de uma cidade com algo em torno de 30 mil pessoas, que era como Jerusalém deveria encontrar-se durante os festejos pascais.

Lembremos, por fim, que com Pilatos estavam sua esposa e, por óbvio, filhos, pelo que um levante judeu bem sucedido ceifaria não só a vida do governador, mas de toda sua família.
A este homem, decerto frio e calculista; porém também certamente tocado pelos inexplicáveis sentimentos de amor e temor que aquele singularíssimo acusado lhe provocava, não restou saída senão lavar as mãos em público do sangue daquele inocente, fazendo-o da forma mais explícita possível, marcando a história da humanidade.

Penso ser oportuno esta visão do Pilatos homem, do Pilatos esposo, do Pilatos pai de família, cheio de medo, amargura, frustração e impotência, ante o ódio imenso do mundo.
Decerto que Pilatos sucumbiu aos interesses mundanos ao permitir – na prática, sem alternativas – à crucificação de Jesus. Condenou-o, dando cumprimento às profecias, ao que estava escrito e que ele talvez jamais pudesse mudar.

Porém, talvez tenha mudado a sua própria história, diante do condenado de nome Jesus.


Julio Cezar de Oliveira Gomes é graduado em História e em Direito pela UESC – Universidade Estadual de Santa Cruz. e-mail: juliogomesartigos@gmail.com

Permitida a reprodução total ou parcial, desde que citada a autoria.

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