Quase ninguém sabe. Pouquíssima
gente comenta. Os grandes órgão de imprensa jamais veiculam. Mas em todo o Estado
da Bahia as aulas da Rede Pública de Ensino, que deveriam ter começado na
segunda-feira retrasada, dia 10 de março de 2015, simplesmente não tiveram
início. E não têm qualquer previsão de iniciarem-se.
Esta lamentável situação se deve
ao fato de que as pessoas que trabalham nas escolas como merendeiras,
auxiliares de limpeza, sensores e porteiros – enfim, os trabalhadores
terceirizados da Educação – encontram-se há cerca de três meses sem receber
salários!
Ao contrário do que se possa
pensar, tal fato não constitui novidade. Comumente os terceirizados que
trabalham para o Governo do Estado da Bahia padecem durante meses, trabalhando
sem receber, e em regra quase absoluta findam o contrato de trabalho sem obter
as verbas rescisórias devidas.
Os professores, categoria à qual
pertenço, se limitam, em casos como este, a esperar a resolução do impasse, em
um misto de solidariedade e conveniência própria. Os alunos, que muitas vezes
não querem estudar de fato, se contentam com reclamações de caráter
estritamente pessoal, sem repercussão social alguma. E os pais de alunos – até
onde tenho informação – não se manifestam de forma nenhuma, nem junto à
Secretaria Estadual de Educação, nem ao Ministério Público, nem aos meios de
imprensa, como se o problema não atingisse diretamente seus filhos e filhas.
A mesma atitude de omissão e
conveniência é adotada por praticamente todos os atores sociais: sindicatos,
clubes de serviço, câmaras de vereadores, Assembleia Legislativa, órgãos da
grande imprensa e partidos políticos.
Importantíssimo elucidar as
coisas exatamente desta forma porque é muito fácil colocar a culpa tão-somente
nos políticos. Isto é tão simplista quanto falso. A culpa é, na verdade, de
todos nós, que por ação ou omissão avalizamos tal estado de coisas.
Óbvio que os gestores têm sua
culpa. Tenho hoje a plena convicção de que prefeitos e governadores só obrigam
aos professores a repor aulas referentes a dias de greve como forma de punir
politicamente os educadores que ousam lutar por seus direitos, sendo a
exigência legal de 200 dias letivos anuais utilizada como mero pretexto para
fazê-lo. A prova disso é a forma como ignoram solenemente duas semanas inteiras
de aulas perdidas, como está ocorrendo agora. É assim em Ilhéus, e com o
Governo da Bahia é exatamente do mesmo jeito.
Lembremos que todas as categorias,
do setor público ou privado, ao fecharem acordo após um período de greve, não
repõem os dias trabalhados, nem têm os dias de paralisação descontados. Somente
com professores isto ocorre, forçando-os a trabalhar até fevereiro, em aulas marcadamente
improdutivas para os alunos, quanto ao aprendizado.
Voltando ao não início do ano
letivo na Rede Estadual, penso que é hora de cada um de nós, como cidadão, se
posicionar exigindo o direito à educação pública, gratuita e de boa qualidade
referido no artigo 206 da Constituição Federal, seja denunciando os maus
gestores junto ao Ministério Público, seja cobrando a quem de direito, ou
negando, no momento oportuno, seu voto a quem não é digno de merecê-lo.
Afinal, façamos nós mesmos as
mudanças que tanto desejamos!
Julio
Cezar de Oliveira Gomes – Graduado em História e em Direito pela UESC –
Universidade Estadual de Santa Cruz
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