quarta-feira, 6 de novembro de 2013

VEJA MAIS UM ARTIGO DE ANTONIO NUNES

Você sabe com quem está falando?
Antonio Nunes de Souza*

Essa célebre frase que foi bastante usada no passado, mesmo com o decorrer do tempo, ainda é ouvida em muitas ocasiões. Entretanto, não com tanto poderio de amedrontamento como se ouvia nos velhos tempos, já que as autoridades federais, civis e militares já estão mais libertadas de tais afrontas, licenças para que atuem de conformidade com as leis, reprimindo e advertindo todos aqueles que, de uma maneira qualquer, estão negligenciando com as normas estabelecidas no país. Mas, mesmo assim, ainda temos os prepotentes e arrogantes que ocupam altos cargos públicos (até baixo às vezes), patentes militares, políticos (esses, principalmente, inclusive seus familiares) que, aproveitando-se das suas posições, afrontam as autoridades que estão desempenhando suas dignas funções, nas ocasiões em que cometem erros e, logicamente, são chamados a atenção para que se identifiquem e justifique o ato cometido. Não vou nem me ater às ocasiões quando vão a um órgão público e querem ser atendidos imediatamente, não considerando as ordens de chegada ou as marcações de horários. Esse comportamento insólito passou a ser denominado de ”carteirada”!

E Adilson, capitão do exército já reformado, conhecido no quartel quando estava na ativa pela alcunha de Tenente Boquinha, sempre que tomava suas caninhas habituais, cometia alguma atitude fora das normas e padrões que ampliavam cada vez mais as pontuações negativas em sua carteira de habilitação. E, mesmo sabendo que pouco funcionava atualmente, sempre usava desse expediente que algumas vezes colava com bons resultados.

Certo dia no fim da tarde, vindo do seu barzinho favorito onde tomava seus drinques e cerveja, invadiu o semáforo e atropelou uma senhora, felizmente causando leves arranhões. Aí, o guarda de trânsito Nigro que estava retado da vida, pois sua ex-mulher tinha pedido aumento de pensão alimentícia para os filhos, sua casa tinha sido invadida pelas chuvas destruindo os móveis e utensílios, seu velho carro tinha estourado o motor, seus cartões estavam atrasados e, para completar, sua mãe com 80 anos estava doente precisando de cuidados especiais que, somente com dinheiro se consegue. Literalmente, assuntos bastantes para deixar uma pessoa puta da vida e louca para descarregar seus azares.
-Favor senhor, desça do veículo e apresente os documentos!
Foi quando Capitão Boquinha na maior galhardia disse: Você sabe com quem está falando?

Soldado Nigro, retado da vida, nem titubeou: Sei sim. Com um filho da puta que atropelou uma senhora, com cara de tomador da cana e metido a porreta querendo tirar onda com minha cara. Passe-me logo essa porra desses documentos antes que lhe leve preso por desrespeito a autoridade e ameaça de amedrontamento!

Nesse momento, Capitão Adilson meio assustado com a reação do soldado, meteu rapidamente a mão no bolso de trás da calça e, Nigro pensando que era uma arma que ele ia puxar, sacou seu trinta e oito e mandou ver bem na testa do militar que, imediatamente, caiu duro para o lado do carona. O soldado se picou, fugiu e até hoje ninguém sabe onde foi parar e se esconder. A mulher atropelada testemunhou a favor do soldado dizendo que o capitão tinha desacatado e agredido o guarda, logicamente, para livrar a cara dele e condenar o sacana que havia lhe atropelado dentro da faixa de segurança.

Como é habitual, o capitão for enterrado com honras militares e, seus amigos de bar, mandaram fazer uma placa e colocaram em sua lápide com os seguintes dizeres: “Você sabe por quem está rezando?”


*Escritor – Membro da Academia Grapiúna de Letras de Itabuna- antoniodaagral26@hotmail.com

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