terça-feira, 17 de maio de 2011

BANANA TÁ COMENDO MACACO

Por Ingrid Furtado.

    Uma ação em tramitação no Fórum Lafayette, em Belo Horizonte,
leva às últimas conseqüências a máxima segundo a qual a Justiça é para
todos - Todos mesmo.

   O pedido de um assaltante, preso em flagrante e que decidiu
processar a vítima por ter reagido durante o assalto, provocou
surpresa até mesmo nos meios jurídicos e foi  classificado  como uma
"aberração" pelo juiz Jayme
Silvestre Corrêa Camargo, da 2ª Vara Criminal, que suspendeu a ação.

    Não satisfeito, o advogado do ladrão, Dr. José Luiz Oliva
Silveira Campos, anuncia que vai além da queixa-crime, apresentada por
lesões corporais. Pretende processar, por danos morais, o comerciante
assaltado.
O motivo: seu cliente teria sido humilhado durante o roubo. Pasmem!

    Wanderson Rodrigues de Freitas, de 22 anos, se sentiu injustiçado
e humilhado porque apanhou do dono da padaria que tentava assaltar.
 O crime ocorreu no mês passado, na Avenida General Olímpio Mourão
Filho, no Bairro Planalto, Região Norte de BH. Por Volta das 14h30 de
uma terça-feira.

    Wanderson chegou ao estabelecimento e anunciou o assalto. Ele
rendeu a funcionária, irmã do proprietário, que estava no caixa.
Conseguiu roubar R$ 45.

    No entanto, quando ia fugir, foi surpreendido pelo dono da
padaria, um comerciante de 32 anos, que prefere ter a identidade
preservada.  "Estava chegando, quando vi minha  irmã com as mãos para
o alto. Já fui roubado mais de 10 vezes nos sete anos que tenho meu
comércio. Quatro dias antes de esse ladrão aparecer, tinha sido
assaltado.
Não pensei duas vezes e parti para cima dele. Caímos da escada  e,
quando outras pessoas perceberam o que estava acontecendo, todos
começaram a bater nele também. Muitos reconheceram o ladrão como autor
de outros assaltos da  região", conta o comerciante.

 Ele diz ainda que, para render a irmã, Wanderson escondeu um pedaço
de Madeira debaixo da blusa, fingindo ter uma arma. "Pensei que fosse
um revólver. Quando a vi com as mãos para o alto, arrisquei minha vida
e a dela.
Mas estava revoltado com tantos crimes e quis defender meu patrimônio.
Trabalhei 20 anos para conseguir comprar esta padaria. Nada foi fácil
para mim e nunca precisei roubar  para viver. Na confusão, chamamos a
polícia e ele foi  preso em flagrante por tentativa de assalto a mão
armada", conta.

O comerciante acha absurda a atitude do advogado. "O que me deixa
indignado é como um profissional aceita uma causas dessas sem pensar
no bem ou no mal que pode causar a sociedade. Chega a ser ridículo",
critica.
Quem parece compartilhar da opinião da vítima é o juiz Jayme Silvestre
Corrêa Camargo.
Em sua decisão, ele considerou o fato de um assaltante apresentar uma
queixa-crime, alegando ser vítima de lesão corporal, uma afronta ao
Judiciário.
O magistrado rejeitou o procedimento, por considerar que o
proprietário da padaria agiu em legítima defesa. Além disso, observou
que não houve nenhum excesso por parte da vítima.
O magistrado avaliou que o homem teria apenas buscado garantir a
integridade física de sua funcionária e, por extensão, seu próprio
patrimônio.
 "Após longos anos no exercício da magistratura, talvez este seja o
caso de maior aberração postulatória.
A pretensão do indivíduo, criminoso confesso, apresenta-se como um
indubitável deboche", afirmou o juiz. Da decisão de primeira instância
cabe recurso.

Com 31 anos de carreira, o advogado do assaltante, Dr. José Luiz Oliva
Silveira Campos, está confiante no andamento do processo. Ele alega
que o cliente sofreu lesão corporal e se sentiu insultado e rebaixado
por ter levado uma sova.
"A ninguém é dado o direito de fazer justiça com as próprias mãos.
Wanderson levou uma surra. Ele foi humilhado e, por isso, além dos
autos em andamento, vou processar o comerciante por danos morais",
afirma.
Ele conta que há 31 dias Wanderson está atrás das grades, no Ceresp da
Gameleira, pelo crime cometido no Bairro Planalto, em Belo Horizonte.
Além de justificar a ação, ele desfia um rosário de teorias. "Não vejo
nada de ridículo nisso.

Os envolvidos estouraram o nariz do meu cliente e ele só vai consertar
com uma plástica. Em vez de bater nele, o dono da padaria poderia ter
imobilizado Wanderson.
Para que serve a polícia? Um erro não justifica o outro. Ele assaltou,
sim. Mas não precisava ter sido surrado", afirma. O advogado
acrescenta que sua tese é a de que Wanderson não estava armado, mas
"apenas com um pedaço de Madeira de 20 centímetros".
O advogado também culpa o governo pelo assalto praticado pelo cliente.
"O problema mora na segurança pública. Há câmeras do Olho Vivo pela
cidade. Por que o poder público não coloca nas padarias também?
Temos que correr atrás de nossos direitos e Wanderson está fazendo
isso. Meu cliente precisa ser ressarcido", diz o advogado.


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