Um deles é o uso das vagas no primeiro escalão como prêmio de consolação: para chegar-se ao ministério de Lula (ou à presidência de uma empresa estatal), a rota mais curta é a que passa pelo naufrágio na tentativa de eleger-se governador, senador ou prefeito de capital.
Foi assim nos dois mandatos do atual presidente. Rejeitados pelo eleitorado da Bahia e de Sergipe, por exemplo, Jacques Wagner ganhou um gabinete na Esplanada dos Ministérios e José Eduardo Dutra virou presidente da Petrobras. Surrado espetacularmente no Rio Grande do Sul, Tarso Genro foi convidado a piorar o Ministério da Educação e, em seguida, o da Justiça. Marta Suplicy deve o estágio no Ministério do Turismo ao fiasco na eleição municipal de 2008.
O critério continua valendo, atesta a contemplação da turma de 2010. Graças ao nocaute que sofreram em novembro, serão ministros os candidatos derrotados aos governos de São Paulo (Aloizio Mercadante, Ciência e Tecnologia), de Santa Catarina (Ideli Salvatti, Pesca) e do Amazonas (Alfredo Nascimento, Transportes). A derrapada na campanha para o Senado valeu ao mineiro Fernando Pimentel o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Todos entendem tanto do universo que vão administrar quanto de física quântica. Mas perderam a eleição. E isso é o que vale.
Outro critério muito valorizado por Lula é o da segunda chance. No governo de Dilma Rousseff, Fernando Haddad ficará no Ministério da Educação até aprender a fazer o Enem. Nelson Jobim só poderá deixar o gabinete de ministro da Defesa depois de aprender a comprar caças franceses sem tantas trapalhadas. Na chefia da Casa Civil, Antonio Palocci tentará aprender a estuprar contas bancárias sem dar na vista. E Edison Lobão cuidará de Minas e Energia até aprender a evitar apagões.
Lobão tem fortes chances de manter o emprego mesmo depois de aprender o que não sabe: ele é amigo de José Sarney ─ e o Homem Incomum tem direito a dois ministros em todo primeiro escalão montado por Lula. Um se movimenta sempre na pequena área do Ministério de Minas e Energia. O segundo não tem posição fixa. Desta vez, Sarney escalou o deputado Pedro Novais para fazer gols no Ministério do Turismo. Novais tem 80 anos. Mas continua bastante ágil.
Os demais ministros foram escolhidos para atender a todos os interesses possíveis. Menos aos interesses da nação. Oremos.
Augusto Nunes http://veja.abril.com.br/blog/augusto-nunes/
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