segunda-feira, 1 de novembro de 2010

44 MILHÕES DE BRASILEIROS NÃO SE DEIXARAM ENGANAR

Ah, a petralhada gostaria de me ver arrancando os cabelos, agora que os tenho, desesperado, a esmurrar as paredes! De fato, é não me conhecer. Trabalhei e produzi ontem normalmente, apesar de alguns percalços de ordem pessoal, quase inteiramente superados, e que nada tiveram a ver com as urnas. Ao contrário! Estou frio como uma lâmina para pensar e com o coração sempre quente para escrever, hehe. Morno, como disse no texto de ontem, jamais! Há dias, Lula, repetindo o seu blogueiro pançudo, dizia que os 3% que acham seu governo “ruim ou péssimo” deveriam estar no “comitê de certo candidato”. A isto Lula gostaria que a oposição estivesse reduzida: a 3%!!! Ele bem que tentou! Mas não! Nas urnas, ela se revelou 44% dos que foram votar. A oposição fez ainda 10 governos estaduais — 8 do PSDB (Paraná, São Paulo, Minas, Goiás, Tocantins, Alagoas, Pará e Roraima) e 2 do DEM (Santa Catarina e Rio Grande do Norte) . Governará 52,3% da população e bem mais da metade do PIB.
O presidente dos “83% de ótimo e bom” — que era, na verdade, quem disputava a eleição, já que Dilma fez questão de não existir — obteve 55% dos votos totais nas urnas, correspondentes a 41% do eleitorado. Como demonstrei em outro post e está historicamente provado, a esquerda leva sempre um terço do eleitorado pelo menos. Esses números dão conta do real poder mágico de Lula. 
O PT elegeu 5 governadores — Rio Grande do Sul, Distrito Federal, Bahia e Sergipe. Os outros 12 “governistas” são do PMDB (5), PSB (6) e PMN (1). A oposição, se quiser ser oposição, está viva e pode respirar muito bem. Só precisa parar de errar — e alguém poderia dizer: “É aí que mora o problema!” Sim, é aí. Dilma Rousseff terá uma maioria folgada na Câmara e no Senado, garantida, como sempre, pelo PMDB — e é aí que mora o problema dela.
De saída, cumpre notar que este, definitivamente, não é um país que vota com a esquerda coisa nenhuma! Não é de esquerda o Congresso e não são de esquerda — nem mesmo essa esquerda petista — a esmagadora maioria dos governadores. 
O PT exerce a hegemonia na grande aliança em razão da força pessoal de Lula e do aparelhamento do estado e de sindicatos, base de sua, digamos, força material. 
Para levar adiante o “Projeto Dilma”, o partido teve de ceder os anéis em muitos estados, dividindo o poder com o PMDB e com o PSB. Os dois partidos logo estarão se batendo pela divisão do butim. 
Os ditos “socialistas” cresceram no Parlamento e elegeram seis governadores: 4 no Nordeste (Piauí, Ceará, Paraíba e Pernambuco), 1 no Norte (Amapá) e 1 no Sudeste (Espírito Santo). Lula está doidinho para fundir a legenda com o PT. Eduardo Campos, governador reeleito de Pernambuco e líder inconteste do PSB, não deve ser tolo: de chefe de um grupo com razoável poder de pressão, passaria a ser um não-petista no PT. Seu projeto presidencial já estará na rua no dia 2 de janeiro de 2011— no mínimo, para negociar.
Assim, o PT não sai das urnas como o partido que faz o que bem entende, nem Lula se sagra como o demiurgo palpiteiro que, mesmo fora da Presidência da República, decidirá os destinos da nação. 
Dilma poderá se aconselhar com ele quantas vezes quiser, mas sabe que sua influência será limitada. 
“Mas e a dos governadores, Reinaldo, é assim tão grande? Não é o Congresso que conta?” Mais ou menos.
Deputados federais paulistas e mineiros, para citar dois estados com bancadas grandes, ainda que petistas ou governistas, sabem que não convém entrar em choque com os respectivos governadores — essa questão será especialmente candente caso Dilma queira, de fato, fazer uma reforma tributária. 
Se os 10 da oposição conseguirem — e eu sei que é difícil — um consenso mínimo (em vez de ficarem se estapeando, o que Dilma adoraria) —, o tamanho da oposição no Congresso perde um pouco de importância. Desde logo, teriam de criar uma espécie de fórum permanente para discutir as questões que dizem respeito a seus respectivos estados.
Os 43,7 milhões
Outra questão muito relevante a ser considerada são as condições em que a oposição obtém esse número de votos, reduzindo em mais de 10 pontos a diferença na comparação com 2002 e 2006. O jogo, desta feita, foi muito mais pesado. 
Lula e a máquina que ele mobilizou no subjornalismo não tiveram limites. Ele despiu-se completamente do decoro — ainda ontem, falou mais um absurdo. Seus aliados naquela variante do crime que se confunde com imprensa trilharam cada palmo da abjeção.  A estrutura do estado foi mobilizada para eleger a sua criatura eleitoral. Manifestou-se de diversos modos: quebrando sigilos e impedindo ou procrastinando a investigação; escalando ministros de estado e chefes de estatais para falar como líderes de facção; organizando a agenda do governo e das empresas públicas para produzir factóides eleitorais. O auge da manipulação foi o anúncio, obviamente apressado, da descoberta de uma “nova possível quem sabe provável é bem capaz” reserva de petróleo no pré-sal dois dias antes da eleição. Fez-se ainda profissão de fé na mentira, com o fantasma ressuscitado das privatizações — a que a campanha do PSDB, é fato, respondeu, de novo, de modo desastrado, o que não retira o caráter vigarista da acusação.
Pois bem, ainda assim, apesar de tudo isso, a despeito de toda sem-vergonhice, de um constrangedor endeusamento da figura de Lula, que tocou as raias do ridículo, nada menos de 44% dos eleitores que compareceram às urnas disseram “NÃO”. 
E esse “NÃO” FOI DITO A LULA, NÃO A DILMA. 
Os petistas confundiram — e, infelizmente, o marketing eleitoral da oposição também (e pela segunda vez) — a aprovação ao governo Lula com uma carta branca para ele falar o que bem entende, fazer o que entende, eleger quem bem entende. O petralha assanhado logo dirá: “Ué, mas elegeu Dilma, não foi?” Foi, sim! Mas a que expedientes recorreu para isso? Até onde teve de descer? Quanto teve de gastar de recursos públicos — arreganharam-se os cofres —  para lograr o seu intento?  E tudo isso para que, no fim, a campanha convergisse para o terrorismo.
Lula teve de renunciar a todos os princípios do republicanismo e do decoro para que 6,05% dos eleitores lhe garantissem a vitória. A distância de 12 pontos numa polarização tende a esconder a margem relativamente estreita de seu triunfo.
Mar de votos. O que fazer?
Os oposicionistas saem desse pleito com um mar de votos. E votos, insisto, qualificados porque conseguiram resistir a todas as vagas da empulhação e à mais desonesta campanha eleitoral a que assisti desde a redemocratização — ou antes, desde a eleição direta para os governos de estado, em 1982. Muitos podem até apoiar o “Lula presidente”, mas não aprovaram o “Lula cabo eleitoral”.
Se as atuais oposições optarem por se opor apenas nos seis meses finais de 2014, serão jantadas de novo pelo petismo — afinal, Lula estará dando sopa, em busca de emprego. Pode-se apostar que dificuldades virão pela frente, inclusive no cenário internacional, e que Dilma acabará fazendo bobagem. Mas essa é sempre uma aposta arriscada. As oposições, nas democracias, devem se preparar para disputar com adversários bem-sucedidos. Opor-se não é sinônimo de dizer “não” apenas; também é sinônimo de alternativas, pelas quais se deve brigar, procurando mobilizar pessoas e correntes de opinião. Mais: precisa estabelecer uma agenda e um conjunto de valores em nome dos quais vai lutar.
Por mais estranha que possa parecer a proposta, e sei que parece, o primeiro passo do PSDB, reitero, é mergulhar na sua própria história para recolocar os fatos no seu devido lugar. Não pode mais continuar seqüestrado pelo PT. No ano que vem, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso faz 80 anos. 
As oposições, os 44 milhões que não se deixaram levar pela estupidez de que ele foi um mau presidente e os que têm apreço pela história devem-lhe mais do que um desagravo; devem-lhe a verdade: fundou as bases do Brasil viável. Sem esta “volta para o futuro”, quem não tem futuro é o PSDB porque fica sem passado.

Por Reinaldo Azevedo http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/

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